respostas a perguntas inexistentes (295)
Em criança, a minha mãe costumava dizer-me que eu estragava o calçado muito depressa. Tal não se devia ao facto de eu abrir a ponta dos sapatos quando jogava à bola, embora isso também acontecesse, mas sim à forma como gastava as solas. Pela minha forma de correr e andar, rapidamente os sapatos passavam a parecer um automóvel com os pneus furados de um lado. Ficavam tortos e desequilibrados.
Estou a olhar para os meus sapatos agora. Ainda é assim hoje em dia. Tem piada, reparar na forma como as minhas solas estão gastas trouxe-me várias recordações de infância. A voz doce da minha mãe, a luz do Sol a desenhar os buracos da persiana na parede do meu quarto e ao canto, sempre no canto, a minha velha bola de futebol a descansar dos pontapés que levava diariamente.
Às vezes jogava no tapete de relva que ainda está no bairro da Gulbenkian, em Aveiro, onde morava a minha avó. Jogava o dia todo, com intervalos apenas para comer o pudim amarelo, que ela fazia quase todos os dias, e para fugir dos funcionários da câmara que nos proibiam de pisar a relva.
Lembro-me de, ao fugir deles a sete pés, tropeçar no passeio, cair e ser apanhado por um.
- Um dia, quando cresceres, vais perceber porque é que não podes pisar a relva! - disse-me ele em tom ameaçador.
A minha avó viu tudo da varanda e saiu em meu socorro. O homem afastou-se, pareceu-me que frustrado por não me ter assustado mais.
- Eu já sou velha e ainda não percebo porque é que fazem tapetes de relva, se não os podemos pisar... - disse ela.
Eu tenho quarenta e três anos agora. Também ainda não percebo.
E foi nisto que pensei ao olhar para os meus sapatos.
Estou a olhar para os meus sapatos agora. Ainda é assim hoje em dia. Tem piada, reparar na forma como as minhas solas estão gastas trouxe-me várias recordações de infância. A voz doce da minha mãe, a luz do Sol a desenhar os buracos da persiana na parede do meu quarto e ao canto, sempre no canto, a minha velha bola de futebol a descansar dos pontapés que levava diariamente.
Às vezes jogava no tapete de relva que ainda está no bairro da Gulbenkian, em Aveiro, onde morava a minha avó. Jogava o dia todo, com intervalos apenas para comer o pudim amarelo, que ela fazia quase todos os dias, e para fugir dos funcionários da câmara que nos proibiam de pisar a relva.
Lembro-me de, ao fugir deles a sete pés, tropeçar no passeio, cair e ser apanhado por um.
- Um dia, quando cresceres, vais perceber porque é que não podes pisar a relva! - disse-me ele em tom ameaçador.
A minha avó viu tudo da varanda e saiu em meu socorro. O homem afastou-se, pareceu-me que frustrado por não me ter assustado mais.
- Eu já sou velha e ainda não percebo porque é que fazem tapetes de relva, se não os podemos pisar... - disse ela.
Eu tenho quarenta e três anos agora. Também ainda não percebo.
E foi nisto que pensei ao olhar para os meus sapatos.
9 comentários:
Tenho 27 e também não entendo.
E também gosto do pudim amarelo da avó, com caramelo a escorrer por cima.
Matilde
Lindo ;)
Don't walk on the grass. Smoke it.
matilde, boa. :)
csa, obrigado.:)
ejsantos, eu sou como o obélix. caí no caldeirão quando era pequenino. :)
Pois eu tenho 60 anos e piso a relva porque me dá imenso prazer...
carlos, boa! um abraço... :)
Quase nos 64 anos continuo a pisar e quando me chamam a atenção digo logo: ai é? e esta poia de cão e aquela e a outra acolá com o respectivo dono, estes são extraterrestres ou invisíveis??? Calam-se logo.
A sério Bagaço, fico piursa com isso, porque piso e os netos brincam, mas temos que ver onde fica a merda canina. Mais...mesmo que apanhem a trampa, as bactérias ficam lá...e afinal para que servem os jardins com relva?
Um bom sábado
Gosto de avós assim.
um beijinho
fatyly, boa semana. :)
redonda, beijinho. :)
josiel dias, um abraço. :)
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