respostas a perguntas inexistentes (254)
Conheci-a numa festa qualquer. Nenhum
de nós gostava de dançar, nenhum de nós gostava da música
demasiado alta, nenhum de nós queria acabar a noite com demasiado
álcool no sangue. Acabámos por ficar os dois na cozinha, o local de
culto habitual para quem está numa festa sem querer efectivamente
estar e sem querer, efectivamente também, não estar. Falámos de
nós e, tanto quanto me lembro, de temas tão diversos como a música
pop nos anos oitenta, o queijo de cabra francês, a cordilheira dos
Andes ou a forma como as Orcas caçam focas bebés.
A festa acabou para todos eram aí umas
quatro da manhã. Menos para nós. Como se costuma dizer, a coisa
aconteceu. Primeiro comprámos dois grandes copos duma espécie de
café na máquina automática duma bomba de gasolina, que bebemos
ainda dentro do meu carro minúsculo. Acabámos por aceitar que
estávamos os dois a esticar a noite com o mesmo propósito. Ela
levou-me para casa dela. Lembro-me, especialmente, do contraste entre
o frio dos lençóis e o calor do corpo.
- É tão estranho! - disse ela.
- O quê?!
- Se passasses por mim na rua,
serias apenas mais um transeunte sem qualquer tipo de interesse...
E eu a pensar que não. Se passasse por
ela na rua seria apenas mais uma transeunte, sim, mas com todo o
interesse do mundo. Olharia para ela fingindo que não o estava a
fazer. Talvez me baixasse para dar um jeito aos atacadores dos
sapatos e, tão certo como eu estar ali, suspiraria pelo menos uma
vez.
É sempre essa a diferença entre um
homem e uma mulher, pensei. Um homem é sempre um homem qualquer,
enquanto aquela mulher é sempre aquela mulher.
8 comentários:
Às vezes questiono-me se tu Bagaço, não serás uma Bagaça!
É que são tão poucos os que conseguem ver com os nossos olhos...
sandra brema, a última vez que me vi ao espelho, era Bagaço. :)
Muito bem descrito ;)
teresa costa, obrigado. :)
gramei
a força suprema, obrigado. :)
Para mim não. Serei exceção?!
eli, não há excepções, mas às vezes pensamos que somos uma. :)
Enviar um comentário