1.29.2013

respostas a perguntas inexistentes (244)

Não sei todos chegaram a fazer isto. Eu pelo menos cheguei, no meu princípio da adolescência. Estou a falar de rasgar um bocadinho de papel duma folha do caderno de escola e escrever uma mensagem de Amor. Depois amarfanhá-la e entregá-la discretamente a uma miúda da mesma turma, a duas ou três secretárias de distância, normalmente por via aérea.
Os telemóveis acabaram com isto, cobrando alguns cêntimos para fazer exactamente o mesmo, evitado até o risco que o papel caia nas mãos erradas. Pensei nisto hoje, quando ouvi uma mãe ralhar com o filho por causa da quantidade de mensagens que ela anda a enviar a uma miúda qualquer. É uma questão de dinheiro, não de conteúdo. Estamos lixados.
Percebo perfeitamente que aquele rapaz que vi no café, corado pela vergonha que a voz alta da mãe o fazia passar, não envie papelinhos como eu fazia na idade dele. Deve ser foleiro ou, como dizem agora os miúdos, "não cria cenário" (aprendi esta com a minha filha). A tecnologia liberta-nos, mas ao mesmo tempo aprisiona-nos. Aquele rapaz não pode enviar mensagens de Amor se a mãe não lhe carregar o telemóvel. Eu podia.
A Eva, na verdade, não me ligou nada quando lhe disse que gostava dela. Pegou na bolinha de papel, olhou para mim com um certo ar de desprezo e rasgou-a em dois ou três pedaços enquanto abanava os ombros. A minha história de Amor com ela morreu ali, à nascença. Não se falou mais nisso. Os meus pais não me controlavam o saldo de folhas de papel dos meus cadernos.

5 comentários:

Cris disse...

Sigo este blog há já algum tempo, mas nunca me dei ao trabalho de comentar... Mas, além de ter adorado este post fiquei surpreendida por não ter comentários (ao contrários dos posts mais recentes de conversas), por isso decidi que estava na hora de o fazer.
Tenho apenas 24 anos e também já fico nostálgica com este tipo de pensamentos... Acho que nunca recebi um papelinho desses, mas é muito mais romântico que uma simples sms... Às vezes, o passado dá saudades, mas temos que seguir em frente e aceitar as novas tecnologias, né?! No fundo, também trás coisas boas.

Muitos parabéns pelo blog!

Cris disse...

Sigo este blog há já algum tempo, mas nunca me dei ao trabalho de comentar... Mas, além de ter adorado este post fiquei surpreendida por não ter comentários (ao contrários dos posts mais recentes de conversas), por isso decidi que estava na hora de o fazer.
Tenho apenas 24 anos e também já fico nostálgica com este tipo de pensamentos... Acho que nunca recebi um papelinho desses, mas é muito mais romântico que uma simples sms... Às vezes, o passado dá saudades, mas temos que seguir em frente e aceitar as novas tecnologias, né?! No fundo, também trás coisas boas.

Muitos parabéns pelo blog!

Ivar C disse...

cris, obrigado. na verdade acho que seria o primeiro em seis anos a não ter comentários. :)

memyselfandi disse...

achei espetacular teres escrito sobre isto. nada tenho contra as tecnologias, pelo contrário, mas de alguma forma elas "limitam" os nossos movimentosou outros raciocínios, sei lá. como a este rapaz,por exemplo. está "limitado" à ideia de que só por telemóvel se enviam mensagens...

Ivar C disse...

memyselfandi, é que por telemóvel há mensagens que nem o chegam a ser. :)