6.06.2013

eu sou feliz sendo prostituta


O Ministério da Saúde brasileiro acabou de retirar uma campanha chamada "eu sou feliz sendo prostituta". O objectivo da campanha, idealizada para ser lançada no Dia Internacional das Prostitutas, era incentivar o uso do preservativo. O objectivo era óptimo, a ideia nem por isso.
Partir do princípio que uma prostituta é feliz por usar preservativo equivale a dizer que um servente ou um engenheiro civil é feliz por usar capacete de protecção no trabalho, que um polícia é feliz por andar com uma arma ou que um professor primário é feliz por ter um bocado de giz na mão. Nada disto é verdade.
A campanha tem, no entanto, o condão de nos fazer pensar se somos felizes no trabalho.  Normalmente não somos, porque a forma como trabalhamos, ou melhor, como somos obrigados a trabalhar, está errada. Em empregos que não gostamos, somos normalmente explorados e até desrespeitados. Por isso, usar aquilo que é suposto usarmos no trabalho não chega para nos sentirmos felizes.
Pior ainda, a grande maioria das pessoas que eu conheço que é feliz no trabalho já perdeu a capacidade de ser feliz fora dele, ou seja, perdeu a capacidade de ser feliz na vida. No Amor também.
A campanha é fraquinha, mas começa pelo ponto certo. Quando falamos em organização política, em relações laborais e produtividade, só faz sentido começar pelo objectivo da felicidade. A maior parte de nós é que tem a mania de não o fazer...

20 comentários:

Anónimo disse...

:(

Carol disse...

A minha alma esta parva! Podiam começar por legalizar a profissão, dar direitos e deveres às senhoras, uma situação que nem é legal ter um dia.. Ou já é legal e eu não soube? Haja quem defenda estas senhoras de tanta exploração e quem as faça pagar impostos, controlar a saúde, etc etc.. Mas sim, convém estarem protegidas.

Arisca disse...

Raramente consegui ser feliz na vida pessoal e na profissional no mesmo espaço de tempo. Mas tenho sido, com a devida consciência que é cada vez mais raro.

Helê disse...

Amei e compartilhei.
Beijo,
Helê

Mariana disse...

Eu acho um bocado estranho o facto de se celebrar o dia das prostitutas se, cá em Portugal, a prostituição não é legal...

Ivar C disse...

anónimo, :)

carol. esqueci-me de escrever que isto é no Brasil. :)


arisca, óptimo. é bom saber que há quem consegue... :)

helê, obrigado. :)

mariana, esqueci-me de dizer que isto foi no Brasil. Vou já emendar. :)

Magalu disse...

Tô no Brasil, sou brasileira e não vi absolutamente nada parecido com essa campanha aqui, pelo menos midia nenhuma noticiou.
:(

Lisa P. disse...

Foi amplamente noticiado que foi no Brasil e o incentivo à consciencialização é necessário, sobretudo num país de grandes dimensões onde o preconceito e a mentalidade das pessoas dificilmente se mudam apenas com uma campanha.
É de referir também que a prostituição não é apenas profissão feminina, também há homens que precisam de orientação e cuidados de saúde e informativos.
Sobre isso talvez a Nova Zelândia pudesse ensinar os países dos dois hemisférios, menciono com isto a legislação que saiu em 2003, Act de reforma que permite aos profissionais do sexo escolherem os seus clientes, recusar clientes, ter cuidados de saúde e , eventualmente, a longo prazo, respeitados pela "sociedade". Irónico, este termo não é? ;)

Bom fds.

Ivar C disse...

magalu, eu li isto no Público, um dia´rio português. :)

lisa p, com certeza que sim, que é. este cartaz é que não é a melhor maneira de o fazer. :)

Fatyly disse...

Já todos responderam por mim...e por cá deveria ser legalizada para evitar tanta coisa.

Olga disse...

Acabaste de "pôr o dedo na ferida" de tanta gente. Ser feliz no trabalho é hoje em dia um mito. Trabalha-se porque se precisa de pagar as contas ao fim do mês e as 8 horas são um autêntico inferno que impedem que se aproveite as restantes 16 que o dia ainda tem. Uma nação desmotivada não tem forças para se levantar...

Ivar C disse...

fatyly, com isso concordo. :)

olga, por isso é que ando a pensar arriscar e criar o meu próprio emprego. :)

Anónimo disse...

Em Portugal, é proibido o incitamento à prostituição, nomeadamente o proxenetismo. Já a prostituição em si não é proibida, tanto quanto sei.
proxenetismopt.wikipedia.org/wiki/Prostituição_em_Portugal

Parece-me uma estratégia boa. Criminaliza-se o traficante mas mantem-se a vítima protegida. É como no caso da droga. Não sei é se dá resultados.

J

Anónimo disse...

"Um representante da Comissão da Eliminação da Discriminação das Mulheres, da União Europeia, em 2002, disse que "não existe prostituição voluntária. Cerca de 90 % das prostitutas que recentemente participaram num estudo, afirmaram que gostariam de mudar de vida. Em muitos casos, o tema da prostituição não era uma escolha da mulher, mas eram pressionadas pela violência e tráfico de pessoas."

Há uns anos, li algures, ou contaram-me, uma informação sobre um país onde a prostituição, por ser legal, era uma profissão acessível através do centro de emprego, e haveria supostamente situação do tipo, ser proposto um trabalho no "ramo do sexo" a uma pessoa, e essa pessoa poder perder o subsídio de desemprego.
http://revoltatotalglobal.blogspot.pt/2011/07/democracia-alemanha-jovem-perde.html

J

Ivar C disse...

J, obrigado. :)

Olga disse...

Fazes bem. Espero que o teu projeto tenha mais sorte que o meu. :)

Anónimo disse...

Para terminar, aqui fica uma anedota.

Vai uma sessão no tribunal, e o Juiz pergunta à testemunha:
- Profissão?
- Sou puta, Sr Juiz.
- Respeito pelo tribunal! Essa linguagem é inapropriada.
Então aí a prostituta justifica-se:
- Mas...... é a minha profissão!
O Juiz olha para a testemunha e ensina:
- "Mulher de vida fácil", é assim que se diz!
A prostituta levanta-se, indignada:
- Vida fácil?! Experimente o Dr. Juiz fazer um broche a um bêbado e depois venha cá dizer o que é vida fácil!...

J

Ivar C disse...

olga, sei que não vai ser fácil. :)

j, lol. :)

Giovana disse...

Felicidade é só mais um conceito ideológico que a classe dominante impôs para manter e potencializar o consumo. Use tal batom e seja linda e feliz; vá ao shopping e seja feliz; pague horrores para ver seu time do coração ganhar e seja feliz. Enfim, uma felicidade inalcançável, cara, que nunca se faz presente.

O que devíamos entender é que a dor e a delícia fazem parte do humano e jamais podem ser descartados, por mais que queiramos.

Ivar C disse...

giovana, boa! é isso mesmo. :)