tenho marido na Ucrânia
Nunca
pensei tornar a vê-la. Na verdade, para ser sincero, já nem tinha
bem a certeza da sua existência real. Talvez tivesse sido apenas um
produto da minha imaginação, naquela altura em que a minha mente
criava mulheres em série, como se fosse uma fábrica no auge da sua
vida produtiva.
Não
a reconheci por nenhum traço fisionómico, nem sequer pelo cheiro ou
pela voz. Ia simplesmente a caminhar entre a multidão quando um som
se destacou na cidade. Era o bater duns
saltos altos nas pedras do passeio, quase igual e tão diferente de
tantos outros. Pensei: “é ela”. Olhei para trás e era mesmo.
Num
quiosque mesmo ao lado vendiam-se cartões telefónicos que prometiam
bastantes minutos de conversa para países como a Roménia, Ucrânia,
Turquia ou Grécia. Fiquei a pensar naquela venda que tratava o tempo
como um produto consumível, como se fosse um tinteiro de impressora
ou um frasco de polpa de tomate. No nosso caso, o tempo tinha sido
isso mesmo, um consumível de pavio curto. Se no princípio tudo me
parecera bem, assim que os nossos corpos se tocaram uma última vez
tudo passou a ser uma vertigem.
Eu
não andava à procura de nada, nem sequer de sexo, no dia em que ela
se sentou ao meu lado do balcão dum bar e me pediu lume. A sensação
de poder Amar alguém estava tão distante como um barco que
lentamente partira em direcção à linha do horizonte, e eu pouco
mais fazia do que trabalhar e ver jogos de futebol enquanto me
embebedava num tasco qualquer.
- Não
fumo! - respondi.
- Ainda
bem. Eu também não...
Depois
sorrimos ao mesmo tempo e pedimos mais um copo. Não sei, escusado
será dizer, quanto ficou o jogo dessa noite. Sei que eram seis da
manhã quando ela se levantou e se foi embora sem se despedir. Eu, a
fingir que dormia, deixei-a ir conforme combinado. Lembro-me do som
dos sapatos de salto alto, num ritmo fora do normal. Aliás, nunca mais me esqueci.
Era
ela. Reconheci-a por esse mesmo som. Olhei para trás e vi-a comprar
um desses cartões que nos dão tempo como se dessem vinho.
Lembrei-me do acordo que fiz com ela nessa noite e retomei o meu
caminho sem lhe dizer nada.
- Tenho
marido na Ucrânia. Só preciso de alguém por uma noite.
- Está
bem, então... - disse.
17 comentários:
assim...vale a pena... !! Se é para ser memorável... vale a pena.. não a traição mas a memória...
Lindissimo!!
A meu ver ... inaceitável. A atitude dela será escusado dizer é lamentável mas saber que tu permitiste isso é a meu ver pior.
É lamentável que hajam pessoas assim, contudo penso que não tenho permissão para te condenar desta forma... infelizmente ou não as mulheres têm esse poder de seduzir um homem, por sua vez os homens só pensam com o que têm entre as pernas :/
Tenho dito.
Wow, a sua vida não é nada monótona. Adoro!
eu sou eu, sim... é isso mesmo. :)
sérgio fangueiro, obrigado. :)
lili, isto é ficção. :)
sys arancia, isto é ficção. :)
Oh bolas! Agora deixaste-me ficar mal << eu aqui a dar-te um raspanete e é ficção! Mas agora falando sério, seria algo que farias na vida real? se sim, então o meu raspanete mantém-se :p
Ui, no que te meteste. Disseste que é ficção, mas a mim parece-me que arriscas a ter uma fricção (verbal!) :-)
EJSantos
www.queminteressa.blogspot.com
Gostei do seu Blog. Parabens!
Adorei! :D Mas que lindo :)
lili, seria, sim. se não estivesse comprometido. :)
ejsantos, não seria a primeira. :)
alguém estranho, obrigado. :)
la, obrigado. :)
Gostava de ser assim, como ela!
Afinal sexo é uma necessidade fisiológica e nem sabemos há quanto tempo estava sem marido.
As mulheres também pensam com o que têm entre as pernas e,pelo que sei,são dessas que os homens gostam,isto diz-me a minha experiência e os anos que tenho.
As que nunca pensam,os homens largam depressa.
Desculpe meu comentário,mas ás vezes certas pessoas parecem que não vivem cá na terra.
Um beijo carinhoso para si.Rosa
carmo, com certeza que sim. :)
rosa, há um princípio biológico, sim, que é comum aos géneros. :)
Retratas uma dura realidade. Com homens ou mulheres longe dos seus...quantas situações dessas não ocorrerão? Necessidades? Sexo por sexo? Não condeno nem aprovo porque, como adultos cada um é que sabe como gerir as suas emoções.
Gostei!
fatyly, obrigado. :)
Fabuloso! Qualquer um de nós gosta do "romance almiscarado" (expressão bem espremidinha... hehehe)
Quando lançares um livro de contos publicita! Eu compro!
pedro faria, obrigado. :)
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