respostas a perguntas inexistentes (290)
Hoje de manhã passei por uma professora minha do tempo do liceu. Cumprimentei-a e ela demorou alguns segundos a aperceber-se de quem eu era. Provavelmente, por uma questão lógica, deduziu imediatamente que tinha sido minha professora, mas depois precisou de tempo para procurar e encontrar-me na longa lista de alunos dela.
- Eras aquele que estava sempre no canto lá atrás a tentar passar despercebido... - disse.
Concordei abanando afirmativamente a cabeça e, depois de me despedir dela, fiquei a vê-la a andar devagar até desaparecer na primeira curva da rua. De tudo o que eu fui no liceu, aquilo que lhe ficou na memória foi o facto de eu me refugiar quase sempre num dos cantos da sala. Depois apercebi-me que eu próprio não me lembro do nome dela, mas sei que ela costumava estar constantemente com uma esferográfica na mão a fechar e a abrir a tampa.
De tudo o que somos ou fomos para os outros, às vezes só resta aquilo que não somos nem nunca fomos para nós. Não faz mal, pensei. Acho que é isso que vai tornando o Amor possível, podermos escolher aquilo de que nos lembramos nos outros.
9 comentários:
Concordo...e no fundo somos tão mais que essa impressão.
Agora fiquei para aqui a pensar se os meus ex-alunos também apanharam algum tique meu. Mas, espera lá... não tenho tiques. Acho eu ;)
Maria Varredora Pau de Vassoura, para nós próprios somos, para os outros depende... :)
Mam'Zelle Moustache, não acredito em pessoas sem tiques. :)
maria das palavras, é verdade. :)
que lindo!!! vivo algo muito parecido. conheço alguém que é para mim alguém tão especial, tão diferente do que se mostra ou se classifica que fico até sem graça de falar-lhe o quanto é importante. pra se ter ideia retomei as leituras por sua causa e passei a exercer meu direito de pessoa alfabetizada e escrever umas coisas depois que o conheci. ele não tem ideia e nem acredita que significa tudo isso pra mim. mas é o que tenho dele pra mim, o que consegui absorver da sua pessoa.
Como eu gosto das coisas que você escreve! Mais que isso, em textos como esse, tenho a sensação de que eu poderia ter escrito isto - se tivesse seu talento - uma inexplicável intimidade de sentimento.
Aquele Abraço,
Helê
liu paim, não é pouco, começar a escrever por causa de alguém. tem, por certo, algum significado. :)
dufas, obrigado. :)
Sim, também acho é mesmo isso que torna o amor possível - irmos esquecendo o que não gostamos.
concordo muito!
Vou "roubar" *
joana ribas, :)
karma, força. :)
Enviar um comentário