9.02.2013

respostas a perguntas inexistentes (259)

Depois do meu divórcio e antes do meu novo casamento, marquei diversos encontros com mulheres um pouco por todo o país. Alguns correram melhor, outros pior. Algumas dessas mulheres ficaram minhas amigas, outras nem por isso. Lembro-me com frequência de alguns desses encontros, doutros nem por isso. 
Alguns amigos meus, com base num pensamento a que arrisco chamar mais conservador, criticaram-me ou avisaram-me, sempre com as melhores das intenções, que não é através de encontros com desconhecidas que se deve conhecer uma mulher. Ainda hoje discordo, até porque se se conhece uma mulher, é porque até então ela era desconhecida, seja numa saída à noite, numa inscrição num workshop de dança ou outra coisa qualquer. Eu queria conhecer pessoas. A internet é apenas um (mais um) meio para o fazer.
Apesar da minha actual relação ter sido uma das maiores coincidências da minha vida, creio que mesmo a maior, acabou por ser essa a via para a relação mais longa que já tive com uma mulher depois de me ter divorciado. Por isso, e independentemente da coisa continuar a resultar por muito mais tempo ou não, não me arrependo. 
Hoje, daquilo que mais me lembro dos meus encontros, é sobre como nos apresentamos ao outro e o que realmente somos. Nunca corresponde, ou quase nunca. Talvez por isso os ingleses lhes chamem blind date (encontro às cegas). Muitas vezes fui ter com mulheres que nunca tinha visto, nem sequer em fotografia, mas das quais fazia uma ideia. Aliás, fazemos sempre uma ideia sobre como são os outros, seja alguém com quem conversamos na net, seja um locutor de rádio ou outra coisa qualquer.
Entre esta distância que separa a forma como nos vemos e aquilo que realmente somos, existe também a variável do que somos e do que queríamos ser, variável essa que pode ser muito cruel. Acho que foi por isso mesmo que na primeira vez que vi a Anabela ela estava a chorar. É assim que me lembro dela hoje, sete anos depois. A chorar.
Saí de Aveiro num fim de tarde em direcção a Coimbra para tomar um café com ela. Nunca a tinha visto, mas a descrição dela, feita por ela mesma, revelava uma mulher morena de um metro e sessenta e cinco, magra, lábios grossos, tímida e que se escondia frequentemente nos seus longos cabelos negros. 
A primeira conclusão a que cheguei é que é que se atrasava bastante, porque apesar de termos combinado às oito da noite num café central, às nove ainda não tinha vislumbrado ninguém que se assemelhasse a tal apresentação. Foi nesse momento que uma "outra" mulher, loira, de cabelo curto e certamente com mais de cem quilos, se sentou na minha mesa a chorar. Estava ao meu lado, em segredo, desde o princípio, a ganhar coragem para se revelar.
Pediu-me mil desculpas por me ter feito andar tanto em busca do inexistente. A sua descrição baseara-se na minha assumida admiração pela Mayra Andrade.

- E o que é que bebes? - Perguntei como que querendo fugir àquela pequena explosão do meu dia.
- Não estás zangado?
- Estou zangado com o mundo. Contigo, obviamente que não.
- Tu também não és bem o que eu estava à espera... - concluiu.

Eu não era o que a Anabela estava à espera. A Anabela não era o que eu estava à espera. Depois mandámos vir vinho, bebida que nos acompanhou numa conversa até às três da manhã, já no seu pequeno apartamento. Dentro daquilo que não éramos, ficámos amigos até hoje. Estava aqui a pensar na quantidade de vezes que dei de caras com mulheres que correspondiam fisicamente ao que diziam, mas com quem não fui capaz de dividir um copo desse néctar da amizade que é o tinto maduro.

9 comentários:

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Nossa, quantos desafios!

Ivar C disse...

pedra do sertão, alguns... :)

Veruska disse...

Por isso é que sempre digo que "a beleza vem de dentro para fora". :)

Tétisq disse...

Acho que, por vezes, conhecer alguém através da Internet proporciona que se dêem largas à imaginação, criem expectativas...há algumas pessoas que só conheço pela net com as quais me abro como se fossem amigas e com as quais nunca me encontrei. Não sei se gostaria de encontrar alguém que conheço só pela internet, acho que o nervosismo seria muito por mais afinidades que as conversas pela net revelem. Teria que ser uma coisa muito conversada e sem qualquer expectativa de uma relação posterior...para além de que para uma mulher deve exigir coragem e cuidados dobrados...

Mas, o amor anda por aí! Espero que sejas muito feliz, com a tua actual companheira e que esse encontro se prolongue no tempo :)

Anónimo disse...

És um gajo porreiro...quer dizer ...eu acho...
Mas entre o que eu acho e a realidade...

Continua a escrever.
Tens pinta.

Abraço dum Gajo de cabeleira farta e loira, de olhos azuis e abdominais tablete...

;)

obat darah tinggi disse...

desafios

Ivar C disse...

veruska, eu acho que vem das duas formas. :)

Tétisq, eu acho que imaginamos sempre a outra pessoa e, de facto, nunca acertamos. :)

anónimo, lol. abraço. :)

obat darah tinggi, também. :)

Eli disse...

Gostei imenso de te ler mais uma vez neste registo com o qual me identifico. Óbvio que as nossas vidas são diferentes, mas ultimamente tenho feito uma retrospetiva nesse sentido das amizades que fiz online, se bem que para mim é apenas mais um sítio onde se podem conhecer pessoas.

:D

Ivar C disse...

eli, obrigado. :)