respostas a perguntas inexistentes (249)
Quando eu era criança frequentei exactamente as mesmas escolas que a minha filha tem frequentado agora, em Aveiro, algumas décadas depois. São exactamente as mesmas escolas, os mesmos edifícios e, em alguns momentos, até os mesmos cheiros. Para além duma ou outra obra de menor importância, a única coisa que mudou foi a entrada. Na minha altura as escolas estavam sempre de portas abertas, tanto para sair como para entrar. Agora têm porteiro e umas longas vedações.
As escolas são, antes de outra coisa qualquer, lugares. Lugares onde é suposto ensinar e aprender qualquer coisa, não apenas através da relação entre o aluno e o professor, mas também no estabelecimento do nossos primeiros laços sociais. Não critico, obviamente, a política de segurança nas escolas, mas tenho a percepção que estas crianças de hoje não têm o mesmo leque de opções que eu tive.
Eu saía da escola para ir dar pão aos patos do parque, para brincar nos milheirais (que entretanto se transformaram num imenso bairro social), para andar de barco ou, muito simplesmente para sair desse lugar. A minha filha está confinada àquele espaço, assim como todos os seus colegas. Admito que hoje, enquanto esperava para poder falar com o porteiro da escola, pensei nisso como uma espécie de prisão. Fiquei com um nó no estômago. Afinal de contas, foi no princípio da adolescência que comecei também a percorrer esse longo e imenso pântano que é o Amor. Percorri-o, por exemplo, através duma árvore que era só minha e da Helena e que, só por acaso, ficava fora da escola.
Já não existe, essa árvore. Foi deitada abaixo para a construção duma avenida. Mas o que ainda existe é esse lugar que, apesar de tudo, faz parte da minha vida e me traz doces recordações. Entreguei o que tinha para entregar e voltei para o automóvel. Também nós somos lugares, pensei. Espero que a minha filha não se deixe transformar ela mesma num lugar fechado, com porteiro e altas vedações. Eu tentei nunca fazê-lo e, duma forma ou de outra, acho que é por isso que consigo estar apaixonado hoje, tal como estive na adolescência.
10 comentários:
Eu tb me apaixono por momentos :)
Acho que as crianças e as pessoas já não são o que eram antigamente e isso obriga a escola a ter mais cuidado com a segurança de todos.
É a única explicação que vejo.
☯ kiss on cheek
os tempos mudam... E infelizmente a segurança de há uns anos é a insegurança de hoje em dia!
Eu entendo bem, mas o pior é o que está a acontecer e tu não vês, nem sabes...
cycle, e vale a pena. :)
sys, eu até acho que sim, que são. :)
richter, eu chamo-lhe o fenómeno tvi. :)
eli, eu acredito... :)
Nas escolas em que andei sempre houve essas vedações, e até havia picardias entre os miúdos acerca da cor do seu cartão da escola, o vermelho significava que não podia sair da escola a não ser mesmo quando acabassem as aulas, o laranja podia sair à hora de almoço, e o verde, sempre que queria. Felizmente eu sempre tive o verde, os meus pais confiavam em mim, e até achavam que era uma forma de me dar alguma responsabilidade. O que é facto é que resultou, já que nunca fui miúda de faltar às aulas.
marta santos, eu tenho quarenta e um anos... :)
Ah Bagaço, que bonito ainda hoje continuares apaixonado.Não acho nada que a tua filha se feche devido a vedações ou porteiros. O mais importante é a própria vivência dentro da escola, não se está cercada.Além disso, mais do que ela possa aprender na escola, o mais importante é ter um pai ainda apaixonado como na adolescência.
Já passei a fase das filha e preocupava-me e muito a segurança delas e de todos. Saiam e entravam quando queriam porque ainda não haviam cartões e sempre foram responsáveis. Graças a um enorme grupo de pais reformados patrulhavam os atalhos (até metiam medo) para o comboio evitando desta forma de "voluntariado" problemas graves como assaltos, pancadaria... etc.
Tudo mudou e hoje estamos todos à beira de um ataque de nervos pelo que se sabe onde o "amigo do alheio" não tem poupado ninguém e muito menos a garotada a caminho da escola.
Mas terão a sua adolescência e há que saber dar-lhes armas para se defenderem e terão momentos bons que mais tarde recordarão!
Gostei!
laura santos, é tudo... para mim os porteiros também contam. :)
fatyly, obrigado. :)
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