coisas sobre mulheres que leio nas portas de casas de banho públicas (6)
Não gosto das novas casas de banho dos restaurantes e dos shoppings. Já não são como antigamente, em que a porta e as paredes estavam repletas de escritos e sabedoria popular. Agora estão sempre limpas, o que é o mesmo que dizer vazias de conteúdo. É muito raro encontrar uma casa de banho à antiga, embora uma vez por outra ainda seja possível, num restaurante duma estrada nacional ou num tasco esquecido dos subúrbios da cidade.
Também é verdade que a internet acabou em grande parte com esta forma de comunicação. Agora escrevemos qualquer coisa num blogue ou numa rede social e ela é lida por milhares de pessoas. Dantes, as portas das casas de banho públicas eram a melhor garantia de chegar a um grande número de pessoas. Nos anos setenta e oitenta, as casas de banho eram a rede social mais popular do mundo.
O problema estava na questão de género. Como as casas de banho eram divididas por géneros, também o eram todos os posts escritos a caneta, esferográfica, ou até com um isqueiro queimando a madeira das portas. Aquilo que um homem escrevia, era lido apenas por homens. O mesmo se passava com as mulheres.
Pensei nisto hoje por causa da Eva, que me ligou logo de manhã para combinar um café. Lembro-me dela me ter explicado uma vez, há muitos anos, que para Amar alguém temos primeiro que gostar de nós mesmos.
Discordei e, a meio de algumas cervejas e argumentos, interrompi a coisa para ir à casa de banho. Mesmo à minha frente, por cima do autoclismo, alguém tinha pintado com um grosso marcador preto: "Odeio-me a mim mesmo, mas estou apaixonado por ela!".
A discussão chegou a um ponto em que, com este meu último argumento e a pedido da Eva, fiquei à porta da casa de banho dos homens durante dois minutos, para ela poder entrar e ler a frase com os seus próprios olhos. Insistiu que tinha sido eu a escrever a frase. Desmenti.
Coincidência ou não, deu-me hoje razão nessa matéria. Uns vinte e cinco anos depois.
- Preciso tomar um café contigo - disse.
8 comentários:
Bagaço,
depende da definição de "amar".
Podíamos ficar aqui mais umas duzentas linhas a discutir o assunto, mas há imensas maneiras de {gostar de /estar apaixonado por/amar} alguém e mais outras tantas de {querer foder com/achar que se vai ser feliz com/achar que se vai morrer se não se estiver com} alguém. Nem todas são feitas de plena consciência de quem somos, do que somos, do que é o outro, e de que o amamos.
Mas também desconfio que ninguém usa a palavra "amar" nesse sentido.
Não é só nos restaurantes à beira da estrada nacional ou num tasco dos subúrbios da cidade que se podem encontrar esses escritos. O Bairro Alto, em Lisboa, está cheio de bares com portas assim escritas :-)
E não, não precisamos de gostar de nós mesmos para estar apaixonados!
menino de sua mãe, por isso é que este blogue tem mais de seis anos:)
anónimo, deste-me saudades do Bairro Alto. :)
as vezes chegamos a odiar nos a nos mesmo por amar-mos alguém.
sisi, a todos, acho eu. :)
Nunca tive paciência para ler e contam-se pelos dedos as vezes que realmente tive de ir a um WC público. Prefiro ler murais ou até tabuletas em locais inimagináveis:)
Há tempos andava eu a apanhar pinhas e troncos para a lareira dos meus quando me deparei com uma tabuleta:
- Queres jantar comigo e depois irmos ver o mar?
escrevi por baixo
- Claro que sim mas se fores buscar-me a casa:):):):)
bem poderia esperar sentada LOL e muito tempo depois até ela que estava caída serviu de lenha:):):)
fatyly,, que frase gira. :)
Acho que se pode estar apaixonado por alguém sem se gostar de si próprio. Já amar... é outra coisa.
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