3.01.2019

Almoço

Estávamos a olhar para o céu apenas porque, pela primeira vez desde que nos conheceramos, os nossos olhares hesitavam em cruzar-se. O céu era apenas um refúgio momentâneo, com um azul mais ou menos gasto e alguns farrapos de nuvens solitárias.
Tanto quanto me lembro, ouvi-te a pensar em nós. Depois de um almoço desgastante com turistas franceses que pediram para se sentar na nossa mesa numa esplanada na Vitosha tão cheia como um ovo.
Passaram o tempo todo a falar demasiado alto e a mostrar quem eram. Um jornalista e adepto de futebol, uma estudante de cinema que não gostava de filme nenhum e um outro homem que só vestia fatos de uma marca específica qualquer.
Eles não falavam entres eles, mas sim para quem estava no seu amplo campo de audição. Foi o que eu te disse.
Há pessoas que não conseguem ser apenas pessoas. Têm que ser outra coisa qualquer porque a sua condição humana não lhes chega. Foi o que tu disseste.
Abstraímo-nos do mundo por um momento e olhámos os dois para cima, para onde não havia gente, e percebemos que quando os nossos olhares voltassem ao planeta Terra corriam o risco de se embrulharem como dois páraquedas descontrolados.
Foi assim que comecei a gostar de ti.

1 comentário:

Mam'Zelle Moustache disse...

Muito bom voltar a ler-te com mais regularidade. Confesso que este teu texto me tocou particularmente.
A simplicidade é tão bonita. E as pessoas (nós todos, eu) esquecem-se (esquecemo-nos) com tanta facilidade disso.

Obrigada por escreveres. ;)