Aveiro
Há uns tempos, creio que na última
vez que te visitei, perguntaste-me o que é que aconteceu entre nós.
Eu não estava a contar com essa pergunta, sabes? Foi por isso que
parei, para procurar uma resposta algures no nosso passado tão
íntimo, e como não a encontrei passei as mãos pelos vários bolsos
das calças e do casaco e fingi que estava à procura de outra coisa.
Creio que das moedas que vou guardando. Tinha alguns euros perdidos
na minha roupa.
Sei que és um vício, um Amor perdido
que não consigo esquecer. Afastámo-nos, andei e ando com outras,
mas nunca verdadeiramente te esqueci. Não me leves a mal. Acredita
que és sempre tu no fundo do copo de cerveja quando ando por aí à
deriva, a beber aos pingos o nosso passado e a reciclá-lo em
lágrimas escondidas noutras ruas e avenidas que, apesar de
longínquas, vão sempre dar a ti. Garanto-te que é assim.
Não me lembro muito bem do exato
momento em que nos zangámos. Talvez até nem tenha existido um. Como
em qualquer Amor forte, talvez eu tenha fingido sempre que não
percebia que a nossa relação se estava a deteriorar. Saía de casa
todas as manhãs, cumprimentava-te e agia como se estivesse tudo bem.
Desculpa. Acho que foi isso.
Quero que saibas que quando tenho
saudades tuas toco-te sempre, esteja eu onde estiver. Sinto-te no
vento que dança com os meus cabelos curtos ou saboreio-te num copo
de uísque qualquer.
As cidades são um pouco como as
mulheres, pá. Há um tempo para o Amor, outro para a Saudade.
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