3.18.2019

Aveiro

Há uns tempos, creio que na última vez que te visitei, perguntaste-me o que é que aconteceu entre nós. Eu não estava a contar com essa pergunta, sabes? Foi por isso que parei, para procurar uma resposta algures no nosso passado tão íntimo, e como não a encontrei passei as mãos pelos vários bolsos das calças e do casaco e fingi que estava à procura de outra coisa. Creio que das moedas que vou guardando. Tinha alguns euros perdidos na minha roupa.
Sei que és um vício, um Amor perdido que não consigo esquecer. Afastámo-nos, andei e ando com outras, mas nunca verdadeiramente te esqueci. Não me leves a mal. Acredita que és sempre tu no fundo do copo de cerveja quando ando por aí à deriva, a beber aos pingos o nosso passado e a reciclá-lo em lágrimas escondidas noutras ruas e avenidas que, apesar de longínquas, vão sempre dar a ti. Garanto-te que é assim.
Não me lembro muito bem do exato momento em que nos zangámos. Talvez até nem tenha existido um. Como em qualquer Amor forte, talvez eu tenha fingido sempre que não percebia que a nossa relação se estava a deteriorar. Saía de casa todas as manhãs, cumprimentava-te e agia como se estivesse tudo bem. Desculpa. Acho que foi isso.
Quero que saibas que quando tenho saudades tuas toco-te sempre, esteja eu onde estiver. Sinto-te no vento que dança com os meus cabelos curtos ou saboreio-te num copo de uísque qualquer.
As cidades são um pouco como as mulheres, pá. Há um tempo para o Amor, outro para a Saudade.

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