12.01.2014

respostas a perguntas inexistentes (294)

Outono

É comum dizer-se que o tempo anda maluco. Anda mesmo. A única coisa que não mudou na rua onde acordo foi a cor das árvores. Parece que algum pintor chegou ali e deu umas pinceladas de vermelho para contrastar com o cinzento dos edifícios que se vêem até à linha do horizonte.
Existem dois tipos de árvores: aquelas que exibem com orgulho a sua cor outonal e aquelas que perderam totalmente a folhagem. As árvores são como as pessoas. Algumas estão felizes, outras estão tristes. Um pouco mais ao fundo, quase a desaparecer numa curva, uns ramos finos e articulados seguram em esforço uma última folha. É uma árvore triste, mas que não desiste de ser feliz. E é assim que me lembro dela.
Às vezes dou-lhe a mão e a folha sou eu. Sinto-me um enorme petroleiro puxado por uma frágil embarcação prestes a afundar-se. Ainda assim, todos os dias ela me salva também a mim, sem sequer perceber muito bem como ou porquê. É a existência, acho eu. Poucas pessoas percebem essa mensagem do Outono, quando ele varre de frio as ruas da cidade e empurra todo o calor do mundo para dentro de cada casa. Às vezes num abraço, outra vezes num sorriso, outras vezes até numa discussão sobre um copo partido.
Ninguém devia acreditar no destino, com excepção daquele que o Outono nos traz.

8 comentários:

Unknown disse...

Oh Bagaço, tu e a tua mania de me meteres a chorar...

redonda disse...

Gostei muito deste Outono.
um beijinho
Gábi

Ivar C disse...

isabel ferreira, pela minha experiência, chorar pode ser bom. :)

redonda, obrigado. beijinho. :)

Liu Paim disse...

que coisa linda! adorei, adoro árvores, adoro outono e as mensagens que o ritmo da vida nos traz. tantas vezes ignoradas pela vida corrida e superficial.

a natureza reside em nós e gostamos de pensar que somos além dela.

adorei mesmo!

Ivar C disse...

Liu Paim, obrigado pela tua presença. :)

redonda disse...

Feliz Natal!
um beijinho
Gábi

Fatyly disse...

Tu escreves e tocas nos corações p'ra caramba!

Ao contrário de ti eu acredito que quando nascemos já vimos com um destino, traçado, auto-estrada, chama-lhe o que quiseres, mas vimos, porque olhando para trás vejo coisas que me aconteceram e que fiz, porque sim. Podes ir ao Pólo Norte, Sul, ali e acolá...mas o que tiver que surgir como brinde, meu amigo, não há volta a dar:):)
Mas claro longe do pensar dos "vendedores da banha da cobra", percebeste?:)

Boas entradas e que 2015 seja bom para ti, para a Raquel e para todos os acrescentes sem excepção!

Beijocas

Ivar C disse...

redonda, um bom 2015 para ti. e obrigado. :)

fatyly, obrigado. percebi, sim. um bom ano para ti. :)