11.24.2014

respostas a perguntas inexistentes (293)

bifanas

Esta podia ser a história dum homem e duma mulher que foram feitos um para o outro, mas não é. Quando nascemos, nascemos feitos para nós mesmos. Não é egoísmo, é liberdade. Se o Amor não entender isso, acaba. O problema é que normalmente não entende, porque o Amor tem a mania de ser egoísta.
Sobre o que falamos quando falamos de Amor, acaba sempre no mesmo pressuposto, errado, de que quando duas pessoas se Amam passam a dever alguma coisa um ao outro. É a assumpção de que duas pessoas podem nascer uma para a outra quando, de facto, não podem.
 A variável do nascimento insere-se no imenso caos probabilístico que nos torna impossíveis para o(s) outro(s). Ainda bem, digo eu. Sabe tão bem sermos feitos para nós mesmos que sabe ainda melhor quando atingimos a impossibilidade do Amor.
Na verdade, o único egoísmo que consegue ser maior do que o nosso é o egoísmo da paixão. Quando nos apaixonamos e passamos a sentir que o chão está dez centímetros abaixo dos nossos pés, assim como quem não quer a coisa, abdicamos um pouco de nós.
Estou a escrever este texto com as mãos a cheirar a bifanas, as melhores do mundo, que como de vez em quando no Icaria, um restaurante perto da estação de São Bento. São dois euros e noventa por uma experiência divinal com carne no pão e uma cerveja. Mais ainda quando se assiste ao que eu assisti hoje. Um homem e uma mulher a discutirem energicamente na rua. Ela a pedir que ele a deixasse em paz, ele a argumentar que foram feitos um para o outro.
É um péssimo argumento, pensei. Depois trinquei a bifana.

8 comentários:

Maria das Palavras disse...

Por mais que o texto esteja fantástico (que está) foi logo o título que me deixou a salivar, num reflexo pavloviano. Maldito sejas :)

redonda disse...

Essas bifanas parecem interessantes, sobretudo quando se aproxima a hora de jantar...Como será que terão ficado no final, juntos ou separados?
um beijinho
Gábi

Estudante disse...

Tão bom ;)

Ivar C disse...

maria das palavras, o próximo é sobre fanecas. :)

redonda, vale a pena lá ir, sim, sozinho ou acompanhado. Dado o argumento, aposto no separados. :)

estudante, :)

Cláupi disse...

No entanto, sempre ouvi que o que define o verdadeiro amor, é precisamente a ausência de egoísmo, que as outras formas, que se dizem amor, são exercício de propriedade sobre o outro, normalmente sufocam, não libertam, apetece-me dizer, que esse é um amor lobo mau, mascarado de cordeiro.

(As melhores bifanas do mundo, devem ser as que se fazem em Vendas Novas, DELICIOSAS, dos deuses, sempre que vou passear ao Alentejo, não lhes resisto, paragem obrigatória em Vendas Novas para a bela da bifana):)

Ivar C disse...

cláupi, são egoísmos diferentes, estes de que falamos. Já ouvi falar dessas bifanas, mas nunca as provei. :)

Belisa disse...

bom texto este

Ivar C disse...

belisa, obrigado. :)