4.02.2016

emigrar

As pessoas têm que perceber o que é emigrar para outro país. Não é a mesma coisa que simplesmente viajar, garanto-vos. A diferença principal encontra-se na forma como te olham quando perguntas a um transeunte onde fica a torre Eiffel ou a Segurança Social.
A saudade também é diferente. Não é a saudade de quem sabe que vai regressar no fim das férias, mas sim a saudade de quem não sabe quando vai voltar. É diferente, porque está ao virar de cada esquina. 
Além disso, falta-me a língua, esta que uso para escrever aqui. Em Sófia quase ninguém fala sequer inglês ou fala bastante mal. Passamos a depender da boa vontade de quem nos atende num serviço público, numa loja de telecomunicações ou simplesmente num bar. 
Hoje apresentei-me à cidade onde vivo desde ontem. Cada mão dada que vi abriu um vazio imenso na palma das minhas, principalmente na direita, que era aquela que eu dava à minha companheira quando nos apresentávamos às cidades por onde viajávamos os dois. Andava à procura duma loja onde pudesse comprar um cartão de telefone búlgaro e fui reconhecendo nas caras que passavam por mim as caras de quem me lembro. 
Depois entrei numa Telenor e a mulher que me atendeu ficou aflita assim que me ouviu falar inglês. Entendemo-nos por gestos, meio inglês e meio francês. Percebi que ela queria realmente ajudar-me. Como um cartão pré-pago é muito mais caro do que um pós-pago, assinei um contrato em que a minha morada é a morada dela. Não podia ser de outra forma porque ainda não tenho morada fixa. Comprometi-me a ir lá assim que tiver o meu próprio apartamento.
Ontem, para abrir conta num banco, foi parecido. Estive quase três horas a falar com a ajuda do Google Translator e usei a morada da funcionária do banco. 
Em ambos os casos terminei com um thanks for being kind and for your time, porque há alturas em que a boa vontade de quem fala connosco vale tudo. O primeiro café que tomei com alguém nesta cidade foi precisamente com a funcionária do banco e, a propósito, o primeiro telefonema que recebi foi duma amiga romena que prometeu preencher o vazio da minha mão.
Isto não é bem um texto, mas serve para explicar porque é que não tenho vindo aqui e, mais do que isso, para prometer que virei assim que tiver a vida normalizada. 
Sejam felizes!