4.30.2015

respostas a perguntas inexistentes (305)

O tamanho do mundo

O tamanho do mundo altera-se com o Amor. É mais pequeno quando vivemos um e maior, muito maior, quando não vivemos. Reparei nisso uma vez quando fui tomar café ao bar do outro lado da rua, aquele que se vê da varanda do meu segundo andar. Nunca mais lá chegava e, quando cheguei, senti-me como se tivesse acabado de atravessar um deserto. Ainda por cima, ainda tinha que fazer o mesmo na direcção oposta.
É o tempo do Não Amor que torna o mundo maior, porque esse é o tempo em que se espera todos os segundos que aconteça alguma coisa boa. Uma paixão, por exemplo. Mas nunca acontece nada e cada segundo transforma-se numa hora. Atravessar uma rua passa a ser uma viagem de dias.
Quando nos apaixonamos, o mundo encolhe subitamente. Está tudo à nossa mão porque também o está a mão do nosso Amor. Quando entramos no bar e pedimos café, já nem nos lembramos do carro que nos apitou por atravessarmos a rua tão depressa.
É assim que se vê o tamanho de um Amor. É sempre inverso ao tamanho do mundo. Até porque existindo, é ele o nosso mundo.

4.29.2015

Amor e carapau frito

Tenho um imenso orgulho em ser português, ou melhor, deixem-me reformular, tenho um imenso orgulho em pertencer a um certo tipo de portugueses, aqueles que se estão perfeitamente nas tintas para o facto de o serem.
Sou português por mero acaso. Se tivesse nascido noutro sítio, era doutro sítio. Por acaso nasci aqui, neste país. Gosto, apesar de tudo o que não gosto. De qualquer forma, orgulho, orgulho mesmo, não posso dizer que tenha.
Ainda assim, sinto-me português de gema em muitas situações. Quando joga a selecção de futebol não sinto nada, mas quando como carapau frito com arroz de tomate, sim, sinto. Se houver algum motivo de orgulho neste país é esse. Acreditem que é um bom motivo.
Acontece-me mais ou menos o mesmo com vinho tinto, sardinha assada com pimento e alguma música, principalmente fado. Por falar em música, é uma área em que sou muito mais africano e brasileiro do que europeu.
Voltando a Portugal, e para além do carapau frito com arroz de tomate, acredito que tive a sorte de nascer num país bom para me apaixonar. A razão é simples: a única mulher do mundo inteiro por quem eu me poderia apaixonar é portuguesa. Foi uma sorte brutal que eu tive, porque isso me permitiu conhecê-la.
Espremo o mundo inteiro e é essa a razão de eu gostar deste país: poder apaixonar-me nele e conseguir acreditar na enorme mentira que me diz que nunca me apaixonaria noutro lugar.

4.28.2015

respostas a perguntas inexistentes (304)

As pessoas são como ímanes. Habituam-se umas às outras e, mesmo quando já não se Amam, querem continuar a Amar-se. É por isso que o Amor mais difícil de terminar é aquele que já terminou, mas foi bom enquanto durou. Mesmo bom, daqueles a sério.
Podemos sentir uma nova paixão todos os dias. Todas as horas, até. Nenhuma delas chega aos calcanhares da paixão de todos os dias, aquela cujo princípio já se transformou numa memória distante, como a de um filme clássico qualquer.
Quando um Amor de todos os dias termina, o que sobra é um imenso nada. Mais do que da pessoa Amada, temos saudades do próprio Amor. É por isso que, às vezes, tentamos colmatar um grande Amor com um Amor pequenino. Se de um Amor grande sobra um imenso nada, dum Amor pequeno sobra sempre uma chaticezinha. Uma chaticezinha sempre é alguma coisa ou, pelo menos, dá para fingir que sim.
É essa a grande diferença entre um pequeno e um grande Amor. Tudo o que sobra ao terminar. Ou uma chaticezinha porque precisamos dela, ou nada porque já vivemos tudo.

4.24.2015

o Síndrome do Frasco

As mulheres deviam ser proibidas de pedir a um homem que lhes abra um frasco de azeitonas. Ao contrário do que parece, nunca é um pedido inocente. Pelo contrário, é tortura psicológica e humilhação gratuita.
Há três coisas que elas sabem quando fazem tal pedido: que ele não vai recusar, que ele não vai conseguir e, finalmente, que ele se vai sentir envergonhado. É por isso que o fazem. Por isso, e porque assim o reduzem a um mero instrumento doméstico: "Olha, preciso de abrir este frasco e lembrei-me de ti". Acontece-lhes o mesmo com o secador de cabelo, do qual só se lembram depois do banho.
O grande problema de um homem que não consegue abrir um frasco de azeitonas passa, naquele exacto momento, a ser o mesmo de um secador de cabelo avariado. Não serve para nada. No desespero, a humilhação aumenta quando ele se se põe a secar as mãos num pano de cozinha enquanto vai dizendo que as tem húmidas. Ao mesmo tempo, entre risos fininhos, elas vão assumindo uma condescendência cruel, do género "deixa lá, eu vou pedir ao vizinho!"
Homens de todo o mundo, quero dizer com orgulho que ontem recusei o pedido duma mulher para abrir um frasco de azeitonas. Não foi fácil, mas alguém tinha que ser o primeiro. A partir de agora também o podem fazer sem terem que ouvir que os outros nunca se recusam a tal coisa. Libertei-vos para sempre do Síndrome do Frasco.

animais

Existem algumas pessoas, felizmente muitas, que defendem os animais com o argumento que se encerra nos próprios animais, isto é, defendem o direito dos animais porque consideram que eles têm o direito a uma vida digna e com o mínimo possível de sofrimento.
Eu concordo com estas pessoas e com estes argumentos, mas o meu argumento principal em defesa dos animais é diferente, porque tem o próprio Homem por trás. Considero que quando um Homem trata mal um animal perde um pouco de humanidade. Enfim, é uma vergonha para a espécie. Para quem se estiver a perguntar, sim, considero que é o caso dos toureiros e de quem defende a tauromaquia. Para mim não são pessoas, são uma imitação barata de pessoas.
Não estamos aqui a falar apenas de emoções (mas também, claro). Estamos a falar de ciência, ou melhor, neurociência e neuropsicologia. Eu sou um ignorante em ambas porque ambas ultrapassam em muito o empirismo, mas sei o suficiente para perceber que a estrutura nervosa de um gato, de um cão ou de um touro lhe "permite" sofrer física e emocionalmente. Simplificando, eu sei que se der um pontapé num cão, ele vai sofrer pela dor física e também pela dor emocional. A minha resposta é fácil: não dou pontapés em cães.
É a partir daí que defendo os animais para defender o Homem. Custa-me ver um indivíduo da minha espécie descer ao nível mais reles que o mundo possibilita, que é esse de fazer outro ser sofrer em nome de coisa nenhuma. É o caso de todos os toureiros, pelos quais sinto imensa vergonha alheia. Enfim, posso chamar-lhes todos os nomes, menos o de animais, porque os animais são melhores do que eles.

4.23.2015

respostas a perguntas inexistentes (303)

Provas de Amor

As mulheres que precisam constantemente de provas de Amor são umas chatas. As outras, acredito que a grande maioria, são melhores. São aquelas que percebem que o Amor se prova a si mesmo todos os dias, sem testes, sem pressões e sem condicionamentos.
Os homens que tentam provar que Amam uma mulher são uns palermas. Normalmente acabam a fazer pedidos de casamento em estádios de futebol, declarações de Amor em noites de karaoke ou a pagar jantares gourmet  para ficarem na mesma com fome. Digo-o eu, com a experiência própria de quem já fez palermices a mais.
O Amor é um ser vivo. Eu diria até que é como uma pessoa qualquer. A partir do momento que existe, tem a noção da sua existência, e nenhuma pessoa precisa de anunciar ao mundo a sua existência. Por um lado porque o mundo apercebe-se facilmente dela, por outro porque se está nas tintas para isso.
O melhor Amor não se anuncia, vive-se. E a vida prova-se a ela mesma. Às vezes num olhar, outras vezes num simples toque de mãos. Na distância e na presença.
Nunca me peças que te diga que te Amo. O "Amo-te!" como simples resposta não vale coisa nenhuma.

4.22.2015

coisas que fascinam (175)

Da conquista

Não há pior verbo para usar num caso de Amor do que o verbo "conquistar". Quando nos apaixonamos e sentimos que somos correspondidos, temos a mania de acreditar que conquistámos alguém, mas no Amor nunca conquistamos ninguém. O melhor que nos pode acontecer é sermos conquistados.
Ser conquistado é passar a pertencer ao outro sem que o outro nos pertença a nós, porque a pertença no Amor tem sempre que ser voluntária. Impulsiva até, diria eu. E a sério que não há melhor Amor do que aquele em que ambos são conquistados, mas nenhum é conquistador.
Quem acredita que conquistou alguém, então ainda não sabe bem que Amar é um verbo bem maior, apesar de ter menos letras. Ter que conquistar é triste, mas ser conquistado é de uma felicidade extrema.
Quando estamos apaixonados, tudo o queremos é que a outra pessoa nos invada e ocupe como um exército intruso. De preferência, que se instale em nós para sempre. É aí que nos rendemos e nos declaramos conquistados. Estamos bem, foi uma guerra sem armas, e a cama é o melhor sítio para guerrear.

4.21.2015

coisas que fascinam (174)

Dizem que o princípio e o fim são naturais. Quanto ao princípio não sei, mas se o fim é natural, então a Natureza não é natural. Eu não gosto de fins, embora os tenha na minha vida de forma regular. Hoje mesmo, assim como quem não quer a coisa, um amigo perguntou-me há quanto tempo estou com a Raquel (usou mesmo o verbo "estar") e eu contei pelos dedos para lhe responder.

- Quase sete! - disse.
- Tens que contar pelos dedos?!

Claro que tenho que contar pelos dedos. Nunca conto o tempo que passa quando Amo alguém. Por um lado, não gosto que o tempo passe; por outro, não tenho dedos que cheguem para o infinito. O infinito é o meu tempo com a Raquel. É essa a minha Natureza, seja ela natural ou não.
O melhor Amor não é aquele que começa, é aquele que não acaba. A Natureza está cheia de merdas que não me são naturais. O fim do Amor é uma delas, talvez a mais grave.  Por favor, não me perguntem pelo passado do Amor. Perguntem-me pelo futuro, aquele que eu não posso contar pelos dedos.

4.20.2015

conversa 2120

Ela - Então, gostas do meu vestido novo?
Eu - É novo?
Ela - Sim.
Eu - Gosto, é bonito.
Ela - Mas não gostas assim tanto...
Eu - Gosto, gosto.
Ela - Pelo teu tom de voz, não sei se gostas.
Eu - Qual tom de voz?! Se eu disse que gosto é porque gosto. Se não gostasse, dizia que não gostava.
Ela - E se só gostasses mais ou menos?
Eu - Dizia que gostava mais ou menos.
Ela - Os homens são mesmo incompreensíveis.

4.18.2015

conversa 2119

Ela - Qual é o melhor vinho tinto que vendes na tua loja?
Eu - Quatro Caminhos, sem dúvida nenhuma...
Ela - Quanto custa?
Eu - Quase oito euros...
Ela - E qual é o pior?
Eu - Na minha opinião, Porta da Ravessa.
Ela - Quanto custa?
Eu - Menos de dois euros...
Ela - Detesto esta dúvida existencial de fim de semana.
Eu - Qual dúvida?
Ela - Se devo ficar sóbria com um bom vinho ou bêbada com um mau vinho.

4.17.2015

Os nossos governos estão cheios de Jics

Por definição, sou contra os homens que não são contra nada. Existe uma raça de homens no nosso país que chamo de Jics. São aqueles que, surja que tema surgir numa conversa, antes de emitir opinião dizem que não têm nada contra. Querem estar bem com todos, mesmo que todos estejam mal com eles, e em nome desse bem estar abdicam da sua própria afirmação.
Estar bem com todos pode dar jeito no futuro, porque assim ninguém lhes aponta o dedo. A quem não tem opinião, ninguém acusa de a ter ou de ter tido. Por isso, just in case, não são contra nada. É daí que vem a alcunha de Jic.
O grande problema dos Jics é a palavra "mas", que os trai a cada conversa e a cada momento. Eu não tenho nada contra os homossexuais, mas...; eu não tenho nada contra os comunistas, mas...; eu não tenho nada contra as tatuagens, mas...; o "mas" é a palavra que morde pela calada.
"Não ter nada contra, mas..." é uma característica de género e, já agora, também portuguesa. É dos homens portugueses, pronto. É ela o grande denominador comum da nossa querida classe política (aquela que pertence à esfera do poder, pelo menos), contra a qual não tenho nada contra, mas que só faz merda, lá isso é verdade.
Os nossos governos estão cheios de Jics.

4.16.2015

respostas a perguntas inexistentes (302)

As mulheres gostam mais de sexo do que os homens

As mulheres gostam mais de sexo do que os homens. Muito mais, mesmo. Por isso é que o querem menos vezes. É comum os homens pensarem que as mulheres não gostam tanto de sexo assim que ouvem o primeiro "hoje não me apetece" da namorada ou da amante. O que eles não percebem é que para elas o sexo é um prato gourmet, para eles é um hambúrguer num restaurante de fast food.
Pensem num Caril de Peixe com frutas em que juntam Perca, Cherne e Alabote. Refogam tudo em alho e cebola enquanto juntam os temperos:  sal, salsa ou os coentros e o louro. É o sexo das mulheres. Tem sabor, dedicação e oportunidade. Não se come é todos os dias.
Eles conduzem um carro até ao drive in mais próximo e pedem um Big Mac. Sim, todos os dias.
O melhor que pode acontecer a um homem é encontrar uma mulher que o ensine, não só a cozinhar, mas também a comer, para que ele possa conhecer receitas gastronómicas. É quando um homem deixa de ter a mania que é o melhor do mundo na cama que passa a ser alguma coisa de jeito. É também, nesse momento, que ela o acompanha uma vez por outra ao pior restaurante do mundo.

4.14.2015

respostas a perguntas inexistentes (301)

Existem os homens que sabem fazer declarações de Amor e existem os outros, os bêbados da meia-noite. Eu pertenço à segunda categoria, àqueles que nunca fizeram uma única declaração de Amor decente. São esses que a partir da meia-noite bebem um pouco mais, porque o álcool está para um homem incapaz de fazer declarações de Amor assim como um cão está para o Homem em geral: é o seu melhor amigo.
O mais bonito nos homens que não sabem fazer declarações é que nunca desistem de tentar. Passam a vida a esbarrar na incompreensão feminina, que ora reage com desprezo total, ora com um sorriso igual ao de quem parte em viagem, isto é, de quem vai embora porque está farto de ali estar.
As mulheres deviam ter mais atenção aos homens que bebem. Acredito que não há um único bêbado neste mundo que não o seja por causa delas. Delas e, claro, da sua incompetência natural para fazer declarações de Amor.
Lembro-me do dia em que percebi que não sabia fazer declarações de Amor. Foi num dia como o de hoje. A espuma da minha cerveja descia pelo vidro num lento suicídio em direcção ao fundo do copo e ela, que ainda só tinha dado dois goles, sugeriu-me que pedisse outra.

- És bonita! - disse eu.

Os olhos dela continuaram a olhar para o meu copo, como se estivessem a admirar uma obra de arte qualquer, indiferentes ao que eu acabara de dizer. Para meu espanto, o mundo continuava a funcionar à minha volta como se nada fosse. Menos mal. Os clientes continuavam a entrar e sair daquela esplanada e o empregado de mesa, demasiado calmo para o número de clientes que esperavam por ele, empilhava copos vazios numa bandeja que me parecia demasiado pequena para o efeito.

- Outra cerveja, por favor! - pedi-lhe assim que passou perto de mim.

É claro que ela ficou indiferente. A minha declaração não chegava a ser de Amor. Era apenas uma tremida constatação da sua beleza, pela qual ela nem sequer tinha responsabilidade nenhuma. Acabei a minha segunda cerveja no mesmo momento em que ela acabou a primeira. Vi-a levantar-se, pagar e afastar-se enquanto me dizia adeus com a mão esquerda. Aquela era uma despedida que me despedia a mim, definitivamente, de candidato a poder Amá-la.

- Paguei as três... - disse ela. Depois desapareceu.

Fiquei eu e o bar.

4.11.2015

conversa 2118

Ela - Os homens só se interessam por uma mulher se ela for bonita. Já as mulheres têm a capacidade de se apaixonarem por homens menos bonitos, mas que digam e pensem coisas interessantes.
Eu - Não concordo nada com isso.
Ela - Podes não concordar, mas é verdade. O meu marido, por exemplo, não era um homem especialmente bonito quando o conheci. Tornou-se bonito pela maneira de ser...
Eu - Eu percebo isso perfeitamente. Acho que os homens também têm essa capacidade.
Ela - Já te aconteceu interessares-te por uma mulher menos bonita fisicamente, apenas porque a achaste inteligente?
Eu - Já, claro que já. Contigo, por exemplo.
Ela - Comigo?!
Eu - Sim.
Ela - Ah! Meu sacana. Então não me achas bonita?!

4.10.2015

respostas a perguntas inexistentes (300)

Tenho quarenta e três anos. Gosto de uísque, de vinho e de café. Tornei-me merceeiro para tentar sobreviver a um período difícil da minha vida. De todos os sonhos que tive, sobra-me apenas um, o de manter permanentemente sonhos impossíveis de cumprir.
Um dos sonhos que deixei pelo caminho foi o de estar sempre apaixonado. Aconteceu-me quando tinha trinta e cinco anos e iniciei, para poder desabafar com estranhos, este blogue. Para além de todos os Amores que fui tendo, tive só dois. Esse de que já falei e aquele que vivo agora, nos dias difíceis que correm.
Quando alguém me conhece não sabe isto, mas conheça-se quem se conhecer há sempre dois parágrafos por trás, uma forma tão insuficiente quanto lúcida de se definir. Eu, aliás, também nunca conheço os dois parágrafos de quem passa por mim. Parto apenas do princípio que os tem.
Se eu pedisse a cada um dos leitores deste blogue para se definir em dois parágrafos curtos, tal como eu acabei de fazer, com certeza que todos o conseguiriam fazer. É isso que nos distingue uns dos outros. Quando pegamos na nossa vida inteira e a esprememos para um copo pequenino como se espreme um sumo ou uma laranja, o resultado é sempre diferente. É o nosso sumo, não o dos outros.
Tenho um enorme respeito pelos dois parágrafos de cada um de nós, apenas por saber que existem. Apesar de curtos, são normalmente uma construção de anos, com momentos deliciosos e outros sofridos. São um labirinto de razões e emoções, de risos e de lágrimas, de murros e de abraços. Todos nós somos assim, tão diferentes quanto iguais.
Parece pouco, mas quando nos apaixonamos por alguém à primeira vista, pouco mais temos do que esses dois parágrafos. O facto de nos conseguirmos apaixonar por meia dúzia de frases e com elas escrever um romance, às vezes mais longo outras vezes mais curto, torna-me optimista. Obrigado.
Acho que é isso o Amor.

4.09.2015

respostas a perguntas inexistentes (299)

insuficiência

Todos procuramos certezas no Amor, sem percebermos que são elas o seu fim. Um Amor a sério vive sempre da dúvida e da insegurança, do receio e da saudade. Por mais que se tenha de um Amor nunca é suficiente. A insuficiência e a insegurança, como duas irmãs gémeas, andam sempre de mão dada.
Pedir a quem se Ama que dê mais é a mesma coisa que pedir a um rio que mude o seu curso natural. Não se faz nem leva a lado nenhum. Para viver bem com um Amor é preciso viver bem com o insuficiente.
Mal do Amor quando é suficiente, quando um dos apaixonados diz para si mesmo que já chega. Todos procuramos certezas no Amor, é verdade. Eu  procuro-as na insuficiência, porque é dela que vivo. 

pensamentos catatónicos (318)

Da estupidez dos homens

No Amor, os homens são um bocadinho estúpidos. Eu incluído, claro. Passam a vida a aprender aquilo com que a mulher já nasce ensinada: a Amar. Depois a vida torna-se um teste de resistência delas com eles. É ver quanto tempo uma mulher aguenta as estupidezes dum homem. Eu cá gabo-lhes a paciência.
A maior estupidez é passar do zero aos cem em menos de dois segundos. Quando um homem está sozinho acha-se um falhado, quando não está passa a ser o maior do planeta. Absurdamente, passa até a ser melhor do que a própria mulher que o Ama. É por isso que um homem nunca acredita que pode ser deixado. Tão verdade que às vezes já o foi e continua a não acreditar.
Com a vida, quando namoram (adoro este verbo), o principal objectivo dos homens que conseguem aprender alguma coisa com a vida é fazer o menor número possível de asneiras. Controlar os ciúmes competitivos, acalmar o excesso de confiança que só uma mulher dá, fazer mais em casa do que jogar jogos parvos e, por fim, tapar sempre a sanita depois de a usar. É o que eu faço, apesar da dificuldade de género.
Ainda hoje saí para tomar café. Na mesa ao lado da minha estava um casal ainda jovem (já não adoro assim tanto dizer isto). Ele explicava-lhe em alta voz como é que se estaciona um automóvel de marcha atrás enquanto ela suspirava e olhava para o infinito. Só mesmo um homem para ter orgulho em conseguir estacionar um carro. Os níveis de paciência dela baixaram mais um pouco, claro. Boa sorte, pá!

4.08.2015

Lá fora

Nós, portugueses, temos um contrasenso tão delicioso que só pode ser Amor. Falamos sempre do estrangeiro como o "lá fora". Se não concordamos com alguma coisa, dizemos que lá fora é que é, sem nos apercebermos que esse "lá fora" é o mundo todo, da Coreia do Norte à Patagónia, e que portanto nos estamos a comparar ao mundo inteiro.
É interessante como nos conseguimos criticar constantemente por não sermos tão bons como o resto do mundo, ao mesmo tempo que afirmamos que estamos quase lá. Somos nós e o resto do mundo num permanente e desigual combate.
E eu digo que só pode ser Amor. É como nas discussões Amorosas em que os apaixonados atribuem mil e um defeitos ao outro e o comparam injustamente a alguém. Discutem e argumentam, mas à noite deitam-se juntos e fazem Amor.
É que o Amor é isso, considerar o outro tão bom como o mundo inteiro ou, no meu caso, melhor ainda.