11.30.2011

respostas a perguntas inexistentes (189)

dar uma foda
"Dei uma foda" é a pior maneira de dizer que se fodeu com alguém, mas há quem o faça. O verbo "dar" é um verbo merdoso para usar no Amor e no Sexo que, digam o que disserem, têm muito em comum e ainda bem. Não é que foder e Amar seja a mesma coisa, porque não é, mas que uma coisa implica a outra lá isso implica. Pelo menos enquanto houver força na verga.
O problema disto é que o verbo "dar" é um verbo padreca, ou seja, é um verbo próprio da desigualdade e, portanto, da misericórdia. Alguém dar uma coisa a outro quer dizer que alguém tinha a mais do que o outro. No Amor isso é mentira. Pelo menos no Amor a sério, aquele em que o Sexo tem um fade out de quinhentos beijos enquanto o tesão amolece com o entardecer. No bom Sexo fode-se mas nunca se dá uma foda.
Depois sobra o défice de quem dá. Quem dá uma esmola na rua a um pobre raramente percebe que do outro lado está uma pessoa, ou seja, uma vivência. É por isso que considera o verbo "dar" adequado à situação. É esse o défice do benfeitor e o riso de quem recebe. Mas "dar" é o verbo mais estúpido do mundo, porque também é o mais hipócrita e mentiroso. Ninguém dá nada a ninguém. Na melhor das hipóteses redistribui, e portanto repõe alguma justiça no mundo mundo, ainda que pouca. É assim na Economia, em que há ricos e pobres. Não é assim no Amor, em que só há ricos.
Na Economia, de facto, dá-se uma foda. No Amor fode-se.

conversa 1856

(na minha casa, comigo a encher o copo de vinho dela)

Ela - Não enchas tanto. Isto não é um tasco.
Eu - É a minha casa, o que vai dar mais ou menos ao mesmo.
Ela - Mas põe menos. Não gosto de copos tão cheios...
Eu - O.k.


(uns minutos depois, com ela a encher o meu copo)

Eu - Podes pôr mais um bocadinho? Isto aqui não é um hotel de luxo.
Ela - Estás a chamar-me dondoca?
Eu - E tu estavas a chamar-me tasqueiro, há bocado?
Ela - Estava. É o que tu és, a pôr vinho no copo até transbordar...
Eu - E tu?! a pôr umas gotas que nem para um gole decente chegam...
Ela - Achas que isto significa que entre nós os dois nunca poderia haver nada mais do que uma amizade?
Eu - Acho, definitivamente.
Ela - Pelo menos acertámos em alguma coisa. Nunca namorámos...
Eu - Sim... se bem que és uma amiga esquisita.
Ela - Esquisita porquê?
Eu - Estás sempre sóbria, séria e nunca abraças ninguém...
Ela - Tu é que és um bêbado. Sempre corado e a cantar o fado...
Eu - É só à noite. Tu é que nem à noite...
Ela - Bem... achas que a personalidade de cada um tem a ver com a maneira como enche o copo de vinho?
Eu - Tem, claro que tem.
Ela - Pois, deve ter. Ainda bem que somos amigos apesar das nossas diferenças...
Eu (abraçando-a) - Claro que sim.
Ela - Mas não me toques. Chega para lá que já cheiras um bocado a vinho...

11.29.2011

conversa 1855

Ela - Era tão bom que os homens percebessem que nem sempre que uma mulher ralha com um homem é por estar zangada com ele.
Eu - Então é porquê?
Ela - Porque precisa, obviamente.
Eu - E como é que se distingue quando ela está zangada e quando não está?
Ela - Não distingue.
Eu - Então como é que um homem pode perceber?
Ela - Não pode, mas era bom que bom que pudesse. É só o que eu estou a dizer.

dores de cabeça

Reza a História que a mulher inventou a enxaqueca para as noites em que não lhe apetece ter sexo. Se não for a História a rezar, vá lá, que é pelo menos um mito doméstico todos concordam. A Emami, uma marca de pastilhas medicinais vai mais longe, e acha que as mulheres também inventaram as dores de cabeça dos homens. Para tal utilizam a sua mais usual forma de persuasão: o grito. Não sou eu que o digo, é a Emami.

coisas que fascinam (136)

Amanheci um dia destes antes da própria manhã. Quando isso acontece sei que não consigo voltar a anoitecer, pelo que costumo aquecer um copo de leite no microondas e bebê-lo devagar à janela da cozinha enquanto furo a negritude da noite com os meus olhos afiados. Já sei que lá fora alguns candeeiros públicos iluminam as ruas despovoadas e que o vento brinca com o lixo que se vai acumulando na curva da estrada. E é assim que tento descobrir o porquê da minha manhã serôdia.
Desta vez acrescentei um shot de uísque ao leite e uma música ao silêncio, como se já soubesse que tinha sido a saudade a despir-me os lençóis e acordar-me extemporaneamente. Ela e o facto de ter adormecido sem lhe enviar uma mensagem a dizer-lhe que gosto dela. São repetitivas, essas mensagens, mas por isso é que são importantes. É como se a repetição se renovasse de cada vez que nasce o dia. É por isso que quando as envio a meio da noite fico à espera que amanheça, que é como quem diz, à espera que ela acorde.

11.25.2011

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher

Hoje é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, e não me lembro de nenhuma maneira melhor de o celebrar do que dizendo à Raquel que a Amo. Só.

conversa 1854

Ela - Conheces alguém que precise de um candeeiro de pé alto?
Eu - Assim de repente não sei.
Ela - É que eu comprei um, mas como já tinha outro ainda em bom estado estou a dá-lo. Não o quero pôr no lixo.
Eu - Mas compraste um quando já tinhas outro?
Ela - Sim, qual é o problema? Apaixonei-me por um que vi numa loja, não resisti e comprei-o. No fundo é o mesmo que já fiz com homens.
Eu - Com homens?
Ela - Sim. Apaixonei-me por um novo, tive que dar o que já tinha em casa. Há sempre quem precise, principalmente se estiver em bom estado.

os indignados

O "vai-se indo" é uma instituição portuguesa. Basicamente quer dizer que não se está a ir para lado nenhum, mas está a ser-se levado por alguma coisa para um sítio qualquer. Talvez pela vida e para a morte. O "vai-se indo" é desistência de optar, de querer e de mudar. É o fim antes dele mesmo.
O "ir indo" é a repetição do mesmo verbo em dois tempos diferentes, sendo que acaba sempre com o gerúndio "indo". É uma pescadinha de rabo na boca em que um verbo auxiliar se auxilia a si mesmo.
Os portugueses devem ser os melhores do mundo a "ir indo". Vamos indo no emprego, vamos indo no Amor, vamos indo na vida. Por isso é que nunca vamos a lado nenhum a não ser onde nos levam.
Os polícias portugueses raramente percebem que fazem parte dos que "vão indo", e só por isso é que reagem de forma abrupta contra quem se indigna com esta forma de contornar a vida durante uma vida inteira. E esta é a minha homenagem sincera a todos os que se indignam, porque é por eles que a vida passa.

11.22.2011

conversa 1853

Ela - Nunca tive um namorado durante muito tempo porque sempre gostei de viver sozinha. Detesto dividir o espaço que habito com mais alguém, percebes?
Eu - Percebo perfeitamente. Nunca puseste a hipótese de ter um namorado que vivesse noutra casa?
Ela - Claro que sim, mas quando se é novo chega sempre a altura em que o homem quer juntar os trapos... e eu nunca quis.
Eu - E a coisa falhou sempre por causa disso, certo?
Ela - Sim, mais ou menos. Mas eu sempre quis dividir a minha com alguém. O que não quis dividir foi a minha casa.
Eu - Ah!
Ela - Cheguei a propor a um gajo por quem estive loucamente apaixonada, quando eu tinha aí uns vinte e cinco anos, que alugássemos apartamentos um ao lado do outro. Mas ele não quis...
Eu - E agora com quarenta, ainda pensas assim?
Ela - Agora tenho cinco gatos a viver comigo. São os homens que não querem viver comigo...

respostas a perguntas inexistentes (188)

O Amor é o caminho mais difícil que todos teimamos percorrer. Nunca percebi muito bem porquê, até eu próprio o ter feito. Dei um pontapé numa pedra que se enfiou num buraco de esgoto e disse a mim mesmo que "mulheres, nunca mais". Continuei a andar e realmente tudo se tornou mais fácil, só que sem piada nenhuma. Sem uma mulher não consigo fazer nada de mim, a não ser pontapear pedras para os buracos de esgoto. E esse, convenhamos, é um caminho sem interesse.
Ainda bem que o fiz, de qualquer maneira. Foi a pontapear pedras que me apaixonei, quando uma delas falhou o alvo e foi bater nos pés duma mulher. Pedi-lhe desculpa pelo meu passatempo estúpido de pontapear pedras para buracos de esgoto e ela sorriu. "Que coincidência", disse. "É o que eu ando a fazer".
Dei-lhe a mão e um beijo e começámos a caminhar os dois. Até hoje, sempre a desviarmo-nos das pedras daqueles que escolheram o caminho mais fácil.

11.21.2011

conversa 1852

(no café, eu a voltar da casa de banho)

Eu - Pedi mais uma cervejinha. Vamos embora depois, está bem?
Ela - Pediste mais cerveja?! Eu não queria mais. Já bebi o suficiente...
Eu - Não faz mal. Só pedi para mim...
Ela - Só pediste para ti? És dum egoísmo puro.
Eu - Mas ainda ainda agora disseste que não querias mais...
Ela - Uma coisa é eu não querer mais , outra coisa é tu te esqueceres de pedir uma cerveja para mim.
Eu - Não me esqueci. Foi de propósito que não pedi outra. Calculei que não queria mais...
Ela - Deixa-te de fazer cálculos sobre mim, está bem? Só te peço isso...

pensamentos catatónicos (264)

Ninguém de nós nasce a conseguir apaixonar-se ou a Amar tal como o faz depois de crescer. Há, portanto, uma primeira vez em que isso nos acontece. Olhando para trás, não me lembro da linha de partida do verbo Amar na minha vida. Perdeu-se, tal como um  farol que se apaga no denso nevoeiro do mar. 
Olhando para a frente, no entanto, consigo adivinhar que a meta será a minha morte. Pelo menos é o que eu desejo, para que nunca morra antes de morrer. O Amor tem esta certeza de ser o oposto do trabalho em tudo, até na idade que lhe desejamos para a reforma. E hoje, enquanto ouvia uma amiga falar sobre a forma como pensa investir na sua carreira profissional, pensava em como eu tenho preferência que o Amor me corra bem. O resto não é bem viver. É sobreviver.

11.18.2011

conversa 1851

Ela - Como é que se Ama uma mulher que não quer ser Amada?
Eu - Não percebo. Estás a falar de quem?
Ela - Sei lá. Talvez de mim.
Eu - Mas quem é a mulher que não quer ser Amada?
Ela - Sou eu.
Eu - Se não queres ser Amada, qual é o problema em não saber como?
Ela - Eu não quero ser Amada, mas queria querer.
Eu - Desisto.
Ela - Desistes de quê?
Eu - De ter esta conversa. Por favor, poupa-me.
Ela - Estás a ver?
Eu - Estou a ver o quê?
Ela - Não consigo manter uma conversa com ninguém.
Eu - Também não ajudas.
Ela - Era o que eu estava a dizer.
Eu - Socorro.
Ela - O que é que foi? Sou assim tão chata?
Eu - Não és chata, és confusa.
Ela - Nunca foste uma coisa que não querias ser?
Eu - Já. Empregado duma fábrica a ganhar mal como o caraças, por exemplo.
Ela - Estava a falar de Amor. Nunca te sentiste indeciso no que querias ser ou não?
Eu - Sei lá.
Ela - Pronto, é isso.

11.17.2011

conversa 1850

Ela - Cortaste o cabelo!
Eu - Cortei.
Ela - Ainda bem. Já estavas com umas guedelhas que não te ficam nada bem.
Eu - Pois estava.
Ela - Mas assim tão curto também não te fica lá muito bem, para ser sincera.
Eu - Então o que é que sugeres?
Ela - Talvez... talvez... sei lá. Não faço a mínima ideia.

só um desabafo

Há uma imensa pequenez na grandeza de tudo o que achamos grande. Na literatura e na música, por exemplo, onde sempre que alguém me pergunta se eu já li ou ouvi uma merda qualquer de que nunca ouvi falar na minha vida, apetece-me responder-lhe que não faz ideia da quantidade de coisas que há para ler e ouvir. Seria uma coincidência enorme eu ter lido ou ouvido exactamente essa merdice por que me perguntam. Ou coincidência, ou então uma cedência desgastante às montras das livrarias e discotecas que me irritam por serem sempre iguais umas às outras.
A imensa grandeza do que já fizemos ou deixámos de fazer só tem lugar no Amor, onde por isso nunca perguntamos a ninguém se já Amou este ou aquele. Talvez fosse interessante viver num mundo assim, com o João a perguntar-me se eu já Amei alguma vez a Clara de Sousa ou a Paula Moura Pinheiro e eu pudesse responder: "A Clara de Sousa está na minha mesa de cabeceira, à espera que eu acabe de Amar a Uma Thurman, mas da Paula Moura Pinheiro nem ouvi falar". Mas não vivemos. O Amor é tão mais grande quanto mais pequeno for, para que possa ser só nosso.
E ainda bem que o Amor é pequeno. Só assim é que pode caber num automóvel estacionado num lugar ermo a meio da noite, numa cama de solteiro onde já estão duas pessoas ou num elevador que avariou e ainda espera pelo técnico. Ainda bem que é tão pequeno que é capaz de se infiltrar nesses lugares em forma de beijo ou sexo, e é nessa gratificante pequenez que tentamos aconchegar a nossa vida o maior espaço de tempo possível. Ainda bem que o grande cabe no pequeno ou o maior no menor.
Vi hoje duas pessoas enxovalharem outra em público, tratando-a como ignorante porque ela ainda não tinha lido um livro qualquer daqueles "obrigatórios". A ignorância está, digo eu na minha imensa pequenez, em não perceber que o mundo é demasiado grande para que um só livro possa ser obrigatório, e que o Amor é demasiado grande para que um enxovalhamento público possa ter lugar. E é só um desabafo...

11.16.2011

amor entre zombies

Vou fazer um filme com zombies. Não tenho dinheiro para grandes produções, por isso vou fazê-lo com a ajuda de voluntários e com muita animação. Muita mesmo.

respostas a perguntas inexistentes (187)

7do elogio da comparação ao elogio sem comparação 

As mulheres não gostam de ser comparadas a nada. Nem como ofensa, nem como elogio. Nada. Preferem sempre a autenticidade, embora às vezes finjam que não. Quando fingem que não e sorriem a uma comparação elogiosa qualquer, na verdade não estão senão a chamar estúpido ao homem que a faz. Estão a divertir-se em silêncio, portanto.
Um homem como eu demora muitos anos a perceber isto, e vai fazendo-o durante a vida como se estivesse a atalhar caminho no jogo da sedução, até um dia perceber que nunca seduz ninguém. A razão pela qual o faz durante tanto tempo é simples: um homem gosta sempre dum elogio, seja ele qual for. Chega até a gostar dos elogios que não compreende, desde que lhe pareçam como tal.
Quando um homem diz a uma mulher que ela tem a irreverência da Amy Winehouse, o olhar profundo da Mayra Andrade ou a simplicidade da Scarlett Johansson, não está senão a meter a pata na poça. A mulher quer sempre ser ela mesma. Por outro lado, um homem fica tão feliz se for elogiado pela força do Sylvester Stallone como pelo humor profundo do Woody Allen. Vai dar ao mesmo, desde que seja um elogio.
Um homem sente-se bem se for o melhor, uma mulher sente-se melhor se for única. É essa a diferença e é esse o encanto delas. É que ninguém é melhor do que ninguém mas todos nós somos únicos em alguma coisa, nem que seja por sermos aquilo que mais ninguém é: nós. Um homem vive, portanto, bem com a mentira que o coloca no topo do mundo. Uma mulher só pede que se a descubra. Às vezes é difícil, mas é sempre possível.

conversa 1849

(no café)

Ela - É verdade que adoptaste um gato?
Eu - É.
Ela (rindo) - Ainda bem. Sempre passa a haver um gato para ver quando eu for a tua casa.
Eu - Ahn?!
Ela - Não percebeste?
Eu - Não.
Ela - Estou a dizer que tu não és gato.
Eu - Claro que não sou gato. Já sei isso há muito tempo. Sou homem.
Ela - Passou aqui alguma gaja boazona?
Eu - Já passaram várias.
Ela - Ah! É que estás com uma enorme incapacidade de raciocínio.

11.14.2011

conversa 1848

Ela - Estás todo arranhado.
Eu - Foi o meu gato.
Ela - O teu gato?
Eu - Sim. Estava ao meu colo, um cão começou a ladrar lá fora, ele entrou em pânico e arranhou-me todo.
Ela - E eu a pensar que tinhas tido uma noite louca de sexo.
Eu - Credo! Isso dá medo! Achas que um gajo estar a sangrar é por ter tido sexo?!
Ela - Sabe tão bem espetar as unhas na carne dum homem...
Eu - Hum... acho que no Natal vou-te oferecer um cartão, daqueles para gatos, para poderes arranhar.
Ela - Se me ofereceres isso, garanto-te que nem sequer precisas de ter sexo comigo para eu te aleijar.

11.11.2011

conversa 1847

Ela - Gosto de dias místicos como o de hoje.
Eu - Hoje é um dia místico?
Ela - É dia onze do mês onze do ano onze. É uma data só com onzes...
Eu - O ano não é onze, é dois mil e onze. É um bocadinho forçado dizer que a data só tem onzes.
Ela - Tens a mania de tirar a piada a tudo, não tens?
Eu - Tirar a piada?! Só te estava a informar que estás dois mil anos atrasada na contagem do tempo. Às vezes pode ser-te útil...
Ela - Pronto, já me estragaste a manhã.
Eu - Pelo menos foi só a manhã, não foi o dia todo. É que sendo um dia místico, era chato estragá-lo todo...
Ela - Opá! Saí de casa tão bem disposta, com uma sensação tão boa. Sabia que não devia ter vindo tomar café contigo.
Eu - Se sabias é porque realmente há qualquer coisa de místico no dia. Adivinhaste e tudo...
Ela - Cala-te um bocado, senão entorno-te o meu copo de água em cima.
Eu - Que agressividade latente! Mas o que é que eu fiz?
Ela - Tiraste a piada toda a tudo. Eu andei a ler sobre numerologia por causa disto e podíamos ter tido uma conversa interessante sobre o tema. Mas não, tu nunca deixas...
Eu - Mas se nem sabias em que ano estamos, ainda querias falar sobre numerologia?!
Ela - Socorro! Gosto muito de ti mas às vezes cansas-me.

conversa 1846

Ela - Nota-se muito que eu sou uma solteirona?
Eu - Porque é que perguntas isso?
Ela - Hoje fui ao mercado comprar fruta e o raio da vendedora disse-me para eu levar mais maçãs para fazer doce, a ver se arranjo homem com esse doce...
Eu - Ah! Isso foi só para te vender mais maçãs.
Ela - Mas nota-se muito ou não?
Eu - Quer dizer... sei lá se se nota ou não.
Ela - Pronto, estou lixada. Nota-se! Está escrito na tua cara que se nota.

respostas a perguntas inexistentes (186)

As pilhas gastaram-se
Só nos costumamos aperceber do Amor quando nos apaixonamos, não quando nos desapaixonamos. Acho eu que é assim porque nos apaixonamos sempre de um momento para outro, enquanto nos costumamos desapaixonar devagar. Tão lentamente que nem damos por ela. Aliás, o maior perigo do Amor, ou da falta dele,  é esse: não nos apercebermos que nos desapaixonámos.
Um amigo meu desapaixonou-se e deu por ela. Aconteceu tão depressa quanto eu me costumo apaixonar, ou seja, deitou-se apaixonado e desapaixonou-se durante o sono. Foi isso, pronto. Nessa manhã, ainda na cama, fez uma declaração de falta de Amor à mulher. "Olha, não sei porquê mas deixei de te Amar esta noite". E ela, para seu enorme espanto, percebeu-o. Sorriu e disse-lhe que então o melhor era divorciarem-se. Os dois tomaram o pequeno-almoço com uma estranha sensação de felicidade, olhos nos olhos. Foi sorte, portanto. Os dois deram-se conta ao mesmo tempo da falta de Amor entre ambos.
Tem piada. Sempre pensei que um Amor só pudesse acabar assim, de um momento para o outro, por causa de outro Amor ainda maior. Mas não, também pode acontecer que ele se esgote por si só. Foi o que eu lhe disse quando ele me contou o sucedido. É o Amor que acaba no nada, como se fosse uma pilha gasta. E ele concordou acenando com a cabeça. "As pilhas gastaram-se", disse.

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O deve e o haver
Admiro as mulheres em geral e é por isso que preciso de me apaixonar. Admirar uma em particular é conseguir materializar aquilo que a generalidade não permite. O Amor também é isso, uma admiração, e eu gosto de viver admirado.
O que mais me admira, aliás, é que com as mulheres que já tive a sorte de particularizar alguma coisa, fiquei sempre com a sensação de ficar a ganhar na relação entre o deve e o haver. As mulheres dão muito mais aos homens do que os homens dão às mulheres. A mulher mais egoísta do mundo, no Amor é sempre uma mãos-largas. O homem mais mãos-largas do mundo, no Amor é sempre um pouco egoísta. Não é de propósito. Creio que é defeito, pelo menos no meu caso. Ainda hoje acho isso. 
Há uns dias, assim como quem não quer a coisa, e talvez porque a consciência me pesasse, disse-o àquela que Amo. Ela respondeu-me que o Amor só se dá quando ambos ficam a ganhar. Tem razão. O Amor é como um gerador que fornece um motor de corrente contínua. Converte-se a ele mesmo em energia mecânica e eléctrica. Quando deixa de o fazer é porque as pilhas se gastaram. E os motores só demoram um segundo a parar...

11.10.2011

pensamentos catatónicos (263)

Por favor, esquece-te de mim nesse dia...

Adoro que não se lembrem de mim no meu aniversário. O melhor que me pode acontecer nesse dia é passar pelo meu melhor amigo e ele perguntar-me como é que ando, dar-me uma pancadinha nas costas e perguntar-me se tenho tempo para um café. Sempre sem me dar os parabéns por uma coisa para a qual não contribuí nada, que foi ter nascido nesse dia. Nascer num dia qualquer é fruto da lei das probabilidades. Mais nada.
Ontem mesmo jantei com uma amiga minha que interrompeu a refeição para enviar os parabéns a um amigo comum. O telemóvel alertara-a para o aniversário dele através dum software qualquer.


- Olha, o António faz anos hoje. Não lhe queres mandar os parabéns?
- Não, não quero.
- Estás chateado com ele?
- Não, não estou. É um bom amigo.
- E não lhe dás os parabéns?
- Não. Não sabia que ele fazia anos hoje...
- Mas agora já sabes. Eu tenho as datas de aniversário dos meus amigos todos no telemóvel. Assim não me esqueço nunca de ninguém.
- Por favor, esquece-te de mim quando for a minha vez... - pedi-lhe entre uma garfada cansada e um gole ansioso no copo de vinho.

Tenho o respeito suficiente por todos os meus amigos para não andar a fingir que decorei a data de nascimento deles. Não decorei nem lhe dou importância, e também não dou importância a que alguém se lembre de mim por causa duma base de dados num telemóvel ou num computador qualquer.
E não é o simples hábito de cumprir uma suposta obrigação que me chateia. O que me incomoda é alguém poder pensar que eu fico feliz porque uma máquina o fez lembrar-se de mim. Por favor, esqueçam-se de mim nesse dia. Se por acaso nos cruzarmos por aí, estou sempre disponível para um café.

11.08.2011

conversa 1845

Ela - Gosto tanto do teu blogue.
Eu - Do "Não Compreendo As Mulheres"?
Ela - Sim, és um homem encantador.
Eu - Obrigado. Sinto-me lisonjeado.
Ela - És um homem encantador no blogue. Eu, infelizmente, conheço-te pessoalmente e a mim não me enganas tu.

coisas que fascinam (135)

És tão bonita

Tive uma namorada que me pedia constantemente que lhe dissesse que ela era bonita. Sempre me pareceu que ela patinava insegura no meu silêncio sobre aquilo que mais me atraía nela, e por isso obrigava-me a dizê-lo. E eu dizia-o, apesar de forçado e pouco convincente. Não é que ela não fosse bonita, porque era. O problema era ela nunca perceber que o meu silêncio era a maior homenagem a essa beleza.
Às vezes as palavras não chegam para descrever nada. No Amor, diria eu, nunca chegam. É que o Amor é indizível e por isso o silêncio sabe muito mais sobre ele do que todos os livros do mundo juntos. E nessa insuficiência eu lá lhe dizia que ela bonita, com a mesquinha sensação de que estava a dar uma esmola a um pobre, o que me fazia sentir ainda mais impotente. Ela nunca acreditava no que eu dizia porque não sabia acreditar no que eu não dizia. É uma pena as mulheres não saberem ler o silêncio dos homens, pensava eu.
Foi num sábado à tarde que decidimos que não nos sabíamos Amar, e entre algumas lágrimas de dor e alívio a vi diluir-se na multidão da avenida como uma aguarela num banho de cor. É na cor que o que foi não volta a ser, e nós nunca mais voltámos a sê-lo.
Quando uma mulher pede a um homem que lhe diga que ela é bonita, o pedido é fraco. É zero. Quando um homem se silencia perante a beleza duma mulher, o silêncio é forte. É infinito. O silêncio dum homem sobre a beleza duma mulher passa largamente o seu corpo. É um voo sobre a maneira como ela olha, como ela come, como ela adormece, como ela cheira, como ela se penteia, como ela se zanga, chora ou ri. Enfim, como ela respira e Ama. E depois desse voo, só depois desse voo, numa branda aterragem sobre os olhos dela, um homem pode dizer num suspiro que ela é tão bonita. És tão bonita.
A primeira vez que eu o disse assim, desta maneira, tinha trinta e oito anos. Hoje tenho quarenta, e isso fascina-me.

11.07.2011

conversa 1844

Ela - Eu não aceito amizades no Facebook de quem não conheço pessoalmente.
Eu - Porquê?
Ela - Sei lá se posso confiar numa pessoa que nunca vi na vida. Por acaso conheço-a de algum lado?
Eu - Eu não aceito amizades pessoais de quem não seja meu amigo no Facebook.
Ela - Estás a gozar.
Eu - Não estou nada. Sei lá se posso confiar numa pessoa que nunca foi minha amiga no Facebook. Ainda há dias uma mulher se meteu comigo ao balcão dum bar e eu perguntei-lhe: "Por acaso conheço-a de alguma rede social?"
Ela - Acho que te vou anular como amigo do Facebook.
Eu - Porquê?
Ela - Às vezes acredito que te conheço mas não, não conheço. És estranho.
Eu - Bem, se deixares de ser minha amiga no Facebook, eu deixo de ser teu amigo pessoal.
Ela - Não estou a gostar desta conversa.
Eu - Então não faças "like".
Ela - Às vezes és insuportável. Acho é que tenho que ir às minhas definições pessoais e bloquear-te.
Eu - No facebook ou na vida real?
Ela - Nos dois.

respostas a perguntas inexistentes (185)

Ouço falar dos pequenos prazeres da vida e fico sem saber quais são os grandes. É que para mim, aqueles que normalmente vejo associados à pequenez não têm realmente nada de pequeno. Um prazer nunca é pequeno, a não ser que nós próprios o encolhamos até quase não se ver.  E isso é o contrário do que se deve fazer.
Porque é que beber uma cerveja fresca num dia quente de Verão há-de ser um pequeno prazer da vida? Para mim é um prazer enorme, porque é um dos que eu quero que seja constante. Assim como é um prazer enorme beber um café de manhã, beijar a Raquel quando chego a casa, espreguiçar-me ao meio-dia quando posso acordar tarde ou comer um chocolate com amêndoas em apenas duas dentadas. Esses são os grandes prazeres da vida porque são eles a própria vida, e eu quero que a minha vida seja toda ela um prazer. Não é, mas eu quero que seja na mesma.
Lembro-me de num desses dias de Verão convidar uma amiga para um copo de vinho na praia da Costa Nova. Levei eu uma das melhores garrafas que tinha em casa, dois copos de pé alto e um canivete suíço com saca-rolhas. Servi-a enquanto o Pôr do Sol nos espreitava corado no horizonte, e quando bebeu o primeiro gole começou a falar daquele momento como um pequeno prazer da vida. Para mim aquele era um prazer grande, talvez até dos maiores que se possa imaginar, mas ela continuou a insistir que um copo de vinho é apenas um pequeno prazer.
Talvez a diferença seja que para mim um prazer nunca vem só. Era o prazer do copo de vinho, era o prazer da companhia dela, o do cheiro do mar e o do calor das pedras onde estávamos sentados. Eram todos os prazeres convencionais e indizíveis dum dia qualquer de Verão, porque é isso que se quer que seja um prazer: uma convenção.
Apaixonei-me uns meses mais tarde pela Raquel, quando foi ela a convidar-me para um copo de vinho em casa depois de nos termos conhecido num shopping da cidade do Porto. "Tinha todo o prazer", respondi-lhe eu. "Eu também", insistiu ela. E até hoje não conheci prazer maior.

11.03.2011

respostas a perguntas inexistentes (184)

ti ti ti gosto mais de ti

De qual é que gostas mais? Quando somos crianças estamos sempre a perguntar isto em relação a tudo e, na verdade, também a responder. Gostas mais do amarelo ou do vermelho? Gostas mais do mar ou do campo? Gostas mais do pai ou da mãe? Depois crescemos e a coisa continua, embora de forma mais subtil. Sublinhamos no nosso grupo social os filmes de que gostamos mais, as músicas, os livros ou as cidades. Ainda há bocado tive essa discussão sobre vinho, por exemplo, e discuti os gostos entre as regiões da Bairrada, Douro, Alentejo, Dão e Setúbal. Queremos sempre gostar mais duma coisa do que doutra, mesmo que não saibamos muito bem porquê, e a razão é simples: do que gostamos mesmo mais é de gostar, e ao gostarmos mais do que quer que seja, aproximamo-nos rapidamente do verbo.
Daquilo que gostamos passamos a fazer parte, numa simbiose que exibimos com mais orgulho do que Razão. É por isso que, sem saber muito bem porquê, somos do Benfica ou do Futebol Clube do Porto. Somos e pronto, gostamos de o ser e somo-lo com intensidade, que gostar é sempre intenso. A vida torna-se mais fácil quanto mais gostamos de alguma coisa e de quantas mais coisas gostamos. Aliás, quando não gostamos de nada é porque andamos tristes e deprimidos. Torna-se urgente gostar do que quer que seja, nem que seja através do método aleatório desenvolvido na infância do "ti ti ti gosto mais de ti".
Gostar é assim uma questão de sobrevivência, é o último alimento que nos resta numa vida árida. Quem gosta sobrevive, quem não gosta morre. É por isso que quando não se Ama ninguém, pelo menos gosta-se. É essencial.
Já gostei de muitas mulheres que não cheguei a Amar. Aliás, sempre que não Amo ninguém passo a vida a gostar de alguém. Ainda bem, porque gostar é muito mais fácil de acontecer do que Amar, e por isso acontece também mais vezes ser recíproco. Acho que é assim que costumamos sobreviver a nós mesmos e à aridez dos nossos tempos de solidão. A gostar. Goste-se ou não. 

11.02.2011

conversa 1843

Ela - Há dias não me ligaste nada.
Eu - Quando?
Ela - Quando passei por ti no Mercado Negro.
Eu - Liguei, liguei. Lembro-me que te acenei e tudo...
Ela - Acenar é o que se faz aos conhecidos. Uma amiga cumprimenta-se com dois beijinhos e pergunta-se se ela está bem.
Eu - Mas tu também não me vieste cumprimentar. Só me acenaste.
Ela - Claro que não. Fiquei à espera que viesses tu ter comigo...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

a distância mínima de segurança


Contra tudo o que eu próprio esperaria de mim mesmo, adoptei um gato esta semana.
Quando chegou a casa escondeu-se imediatamente no primeiro buraco que encontrou, mais propriamente debaixo do armário da cozinha. Quando me baixei para o espreitar ele ainda se chegou mais para trás, como se eu fosse uma ameaça à sua vida. Por isso deixei-o estar e fui deitar-me no sofá onde acabei por adormecer. Acordei umas duas horas depois com as cócegas que ele me fazia enquanto me cheirava o nariz. Assustou-se e deu alguns passos para trás, mantendo uma distância mínima de segurança de cerca de dois metros.
É essa a distância que o Aníbal (chama-se assim por causa duma votação que fiz no meu Facebook) gosta de manter de quem ainda não conhece muito bem, não vá ter alguma surpresa desagradável. Fiquei ali a dormitar no sofá e a pensar nisso, como se tivesse percebido o quão parecido ele é com algumas mulheres que conheci. Mantém essa distância de segurança e arranha quem a invade, a não ser que decida gostar desse alguém...