2.27.2009

pensamentos catatónicos (166)

o amor como uma droga

Num artigo publicado na revista Nature, o professor Larry Young explica o amor como uma droga. [ler na BBC em espanhol] Diz ele que o amor se pode explicar através duma cadeia de processos neuroquímicos que se dão em determinadas partes do cérebro e que estão prestes a ser isolados pela comunidade científica.
Se esta teoria estiver correcta será possível acabar com o sofrimento pessoal por causa do amor. Será possível, por exemplo, obter um afrodisíaco químico que nos faz apaixonarmo-nos por uma pessoa qualquer ao virar da esquina e, simultaneamente, obter um antídoto para quando nos apaixonamos pela pessoa errada. Será até possível calcular com um grau elevado de certeza se duas pessoas estão mesmo dispostas a ter uma vida em comum.
Eu cá não sei... continuo a achar que os desgostos de amor são fundamentais na nossa vida. Sem eles, um outro amor até pode correr bem mas faltar-lhe-á sempre um condimento qualquer...

conversa 1172

Ela - ouvi na rádio que este fim de semana vai chover...
Eu - A sério?
Ela - Sim. Detesto meteorologistas...

2.26.2009

sexo e música

O Centro de Investigação Médica da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, descobriu que os adolescentes que ouvem músicas com uma forte conotação sexual têm o dobro das probabilidades de fazer sexo ou, como diz um amigo meu, fazer o amor. [ler em espanhol no europapress]

zé cabra vs shu yong

O conceituado artista chinês Shu Yong fez uma escultura para protestar contra as cirurgias plásticas cada vez mais na moda na China. A escultura, que já esteve exposta em várias mostras internacionais, mostra uma boneca que orbita umas mamas exageradamente grandes.
Tal como o Shu, eu também não sou grande adepto das cirurgias plásticas, embora as perceba em certos casos. Aliás, esta obra de arte remete-me para uma outra grande criação artística mas dum português. Estou a falar do Zé Cabra e da música "A minha maria (tem tudo o que é bom)". Senão repare-se nestes versos:
a minha maria tem tudo o que é bom /não precisa de artifícios para ser sensual / nem precisa de certas poses / é natural / é bonita como Deus a fez... / naturalmente tem muitos "quês"...

Tal como Shu, também Zé Cabra se opõe aos critérios de convergência mediáticos da sexualidade e corporalidade humanas, e expressa essa revolta através duma estética sonora ruidosa da mesma forma agressiva que o seu colega chinês o faz na escultura. Se o fauvismo se manifestava pelo uso hiperbólico das cores, podemos agora dizer que Shou é o fauvista da escultura e o Zé Cabra o fauvista da música...

2.25.2009

conversa 1171

Ela - Hoje já me zanguei com o meu marido...
Eu - Então porquê?
Ela - Fui comprar uns sutiãs e ele entrou na loja comigo...
Eu - Entrou na loja contigo... só isso?
Ela - Sim. Ele já sabe que eu gosto de comprar sutiãs sozinha e sem pressões.
Eu - Ah, então ele pressionou-te...
Ela - Sim, a presença dele é suficiente para me sentir pressionada.

como ele e ela se penteiam depois do banho

ele:
1] seca o cabelo com a toalha em cerca de dez segundos.
2] com os dedos duma mão a fazer de pente, ajusta mais ou menos o cabelo a uma posição em que não fique à frente dos olhos.

ela:
1] coloca um creme amaciador.
2] seca o cabelo com o secador durante cerca de dez minutos enquanto o escova com a escova número 1.
3] estica o cabelo com o esticador de cabelo (sim, existem esticadores de cabelo)
4] escova apenas a ponta dos cabelos com a escova número dois, numa operação complexa que envolve enrolar apenas parte do cabelos e depois puxá-los.
5] fica cinco minutos a olhar-se para o espelho a ver se detecta alguma branca ou algum cabelo fora do sítio.
6] com uma tesoura pequena corta as pontas de um ou outro cabelo.
7] grita-lhe a ele para ir vestindo o casaco porque já estão atrasados.
8] escova o cabelo com a escova número 3.
9] ele responde-lhe que já vestiu o casaco há vinte minutos e está à espera.
10] penteia o cabelo com um pente e diz-lhe a ele que já podia ter dito que estava pronto.
11] já no carro, continua a mexer no cabelo com os dedos das mãos e diz-lhe que nunca tem tempo para se pentear em condições porque ele a pressiona.

conversa 1170

Ela - Trouxe-te uns frascos para pores o teu doce de maçã...
Eu - Fixe. Obrigado. Põe aí na cozinha, por favor...
Ela - Obrigado nada. Quando fizeres o doce tens que me devolver alguns com o doce lá dentro.

mulheres que eu gostava de poder não compreender (78)



nome: Sophie Marceau
origem: França
info: Lembro-me dela principalmente nos anos 80, em filmes que passavam na RTP, embora nos anos 90 tenha entrado em alguma grandes produções cinematográficas. É que o nome dela era fácil de decorar para uma criança. A face angelical dela, os olhos claros em forma de amêndoa e os cabelos loiros também. Nasceu cinco anos antes de mim e ficou, talvez por isso, guardada para sempre no baú das memórias da minha adolescência.

2.22.2009

pusilânime

Das mais de 20 000 ocorrências de violência doméstica registadas pela GNR e pela PSP, apenas 213 chegaram à fase da sentença. [ler no Público]
A violência doméstica nunca é só uma agressão. Mais do que uma agressão, é uma forma pusilânime de roubar a vida de outro(a). Elisabete Brasil, da União de Mulheres Alternativa e Resposta, defende a criação dum tribunal único para tratar casos deste âmbito. Com estes números não há como não lhe dar razão.

2.21.2009

pensamentos catatónicos (165)

Há bocado estava a jantar enquanto na televisão dava o Sporting-Benfica. Duas mulheres bonitas sentaram-se na minha mesa para ver o jogo. O Sporting marcou o primeiro golo e uma delas disse-me: "filho duma grandessíssima puta, este cabrão do Liedson". Alguns segundos depois tornou a dirigir-me a palavra para me perguntar delicadamente se eu era do Sporting. Abanei a cabeça negativamente. "ainda bem, foda-se", disse ela. Ainda dizem que não existem extraterrestres...

conversa 1169

(no café)

Ela - Há mulheres que procuram num homem uma protecção, apenas isso. Há outras que gostam de ser mais independentes e pensam mais na componente sexual do homem. Depois, acho que ainda há outras que querem um homem para exibi-lo, como se isso desse algum estatuto social...
Eu - E tu que tipo de mulher é que és?
Ela - Eu?! Eu... queria uma água com gás que estou com dor de barriga.

bonecas no trabalho...



Entre 2004 e 2006 o Instituto Nacional das Mulheres, no México, promoveu uma campanha publicitária com uma sexy doll de boca aberta, vestida de empregada doméstica, sentada a uma secretária ou a trabalhar com uma fotocopiadora, com as frases: "a mulher não é um objecto" e "o assédio sexual é crime". Perto dela há sempre um homem sombra...

O objectivo era denunciar a problemática do assédio sexual às mulheres no local de trabalho. A campanha foi composta por spots de rádio, cartazes e filmes que tiveram uma presença massiva nos media mexicanos.

Uma vez assisti a um caso de assédio sexual numa empresa, só que o assediado era homem. Lembro-me que na altura ele se queixou disso num jantar entre amigos e todos gozaram com ele, como se ser assediado por uma patroa fosse um golpe de sorte que ele não estava a aproveitar. Estava a ver esta campanha, que me é simpática, e a pensar em como os homens nunca se poderão defender duma coisa destas por uma questão cultural...

2.20.2009

euromilhões

Fui passar um fim de semana a Barcelos, a casa dum casal amigo que se desentendeu por causa dum prémio do euromilhões. Filmei tudo...

2.19.2009

conversa 1168

Ela - Comprei uma coisa para me ajudar a abrir tampas de frascos.
Eu - E funciona?
Ela - Sim, com aquilo consigo abrir todo o tipo de frascos.
Eu - Fixe.
Ela - Muito fixe, até porque assim nunca mais vais passar pela vergonha de não conseguires abrir um frasco à minha frente...

conversa 1167

Ela - Se eu encontrasse agora uma lâmpada com um génio lá dentro só queria um desejo...
Eu - Qual?
Ela - Ser bonita.
Eu - Tu já és bonita.
Ela - Então queria que todos os homens me achassem bonita.
Eu - Tu já tens pelo menos um homem que te acha muito bonita, não tens?
Ela - Tenho, tenho... mas um é pouco. Preciso de mais...

conversa 1166

Ela - Gosto do café com muita espuma.
Eu - Eu também.
Ela - Também gosto do mar com muita espuma nas ondas...
Eu - Mas estás a dizer isso porquê?
Ela - Não sei...

respostas a perguntas inexistentes (54)



Hoje de manhã, na cidade turca de Bozkir, um jovem de 18 anos chamado Mehmet Candar tirou esta fotografia ao céu com o seu telemóvel. Diz ele que estava a passar por uma mesquita quando viu esta estranha imagem no céu. O que Mehmet viu no céu foi uma imagem mais ou menos sinistra composta por dois olhos enormes. [ler no The Sun]
Estava a ver a imagem e a pensar que às vezes precisamos mais que alguém nos veja do que sermos nós a ver alguém. Reparar nos outros sem que ninguém repare em nós pode ser uma causa de solidão. Talvez seja essa solidão e não os ventos que cruzam o céu a desenhar um olhar nas nuvens...

2.18.2009

a criação de estereótipos...



No ano de 2007 a Dolce & Gabanna viu-se obrigada, após forte contestação geral, a tirar esta publicidade de todas as revistas do mundo. Na Espanha e na Itália chegou mesmo a ser censurada. A Amnistia Internacional e o Instituto da Mulher (Espanha) foram algumas das associações que se apressaram a criticar a mesma.
A marca defendeu-se dizendo que a fotografia é apenas um jogo de sedução mas a maior parte das pessoas viu nela uma mulher prestes a ser violada.
A publicidade é uma das formas mais eficazes de criar estereótipos de género e são esses estereótipos o principal motor da desigualdade entre homens e mulheres. Por isso mesmo também acho esta imagem ofensiva e um perigo, não apenas para elas mas para todos nós.

free pleasures...

A Cláudia pergunta-me quais são dez coisas completamente grátis que mais gosto.

1] Ficar em estado vegetativo toda a manhã na cama.
2] Ouvir repetidamente o disco da Mayra Andrade: Navega.
3] Actualizar este blogue.
4] Desenhar no computador.
5] Beber vinho com uma mulher de quem gosto muito.
6] Jogar civilization IV
7] Ir para parques de estacionamento com o meu carrinho novo telecomandado.
8] Ler na varanda durante o Verão.
9] Passar música em bares nocturnos.
10] Pegar no carro e conduzir sem destino até uma terrinha qualquer beirã ou transmontana. Passar lá o dia todo e voltar à noite.

conversa 1165

Ela - A minha vida sexual antes de casar era muito melhor do que agora.
Eu - Melhor?! Mas tu já namoravas com o ****** há anos...
Ela - Pois já, mas ele pinocava muito mais antes do casamento do que agora. Passam-se meses sem...
Eu - Hum... e já falaram sobre isso um com o outro?
Ela - Já discutimos por causa disso, já. Ele acha que a culpa é minha e eu acho que a culpa é dele.

conversa 1164

Ela - Gostava que me aconselhasses a comprar uma máquina fotográfica.
Eu - Eu acho que devias comprar uma máquina fotográfica.
Ela - Ahn?
Eu - Estou a aconselhar-te a comprar uma máquina fotográfica.
Ela - Às vezes irritas-me tanto...
Eu - Estás sempre a pedir-me para te aconselhar uma máquina fotográfica. Já fiz não sei quantas pesquisas e já te mandei não sei quantos emails com as melhores relações qualidade/preço do mercado.. Nunca compraste nenhuma. Queres que eu torne a fazer o mesmo, é?
Ela - Sim.

a homossexualidade não é normal

Este padreca acha que a homossexualidade não é normal. Pois não... normal é ser padreca e abstinente a vida inteira que é para as heranças de cada um irem para a igreja católica e não para os filhos.

2.17.2009

uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi...

O sagher e a Hipatia lançaram-me um desafio: dizer nove coisas sobre mim e três serem mentira.

1] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi jogar Civilization IV durante um dia inteiro.
2] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi telefonar a uma ex-namorada e perguntar-lhe se está emocionalmente disponível para me aturar a chorar nessa noite.
3] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi beber uma garrafa inteira de Bushmills num bar qualquer do Porto.
4] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi ir a uma casa de alterne.
5] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi desenhar e/ou escrever compulsivamente.
6] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi pegar no carro e conduzir pelo menos 300 quilómetros sem direcção e adormecer sozinho numa praia da costa vicentina.
7] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi ter visto filmes durante vinte e quatro horas seguidas.
8] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi ter pedido à vizinha do andar de baixo para jantar comigo, apesar de nem a conhecer muito bem.
9] Uma das coisas que já fiz, por estar deprimido por causa duma mulher me ter deixado, foi ter comprado um pedómetro e caminhar doze quilómetros seguidos a pé.

2.16.2009

conversa 1163

Ela - Afinal posso jantar contigo hoje...
Eu - Então espera... como há cinco minutos atrás me disseste que não podias, marquei outra coisa. Deixa ver se desmarco.
Ela - És lixado. Marcas logo outra coisa.
Eu - Disseste que não podias...
Ela - Mas esperavas um bocado, a ver se eu não podia mesmo.

pensamentos catatónicos (164)

Ainda são quatro da tarde e hoje já fugi de quatro mulheres. Da mulher que está a impingir cartões citybank no Gaia Shopping, das duas testemunhas de Jeová que vinham falar comigo na rua 19 em Espinho e da mulher que está a impingir iogurtes yoplait no Continente de Aveiro. Não gosto de cartões de crédito, não acredito em Deus e gosto de escolher os meus próprios iogurtes. Ufa...

conversa 1162

Ela - Vá... até quinta.
Eu - Até quinta não. Amanhã é terça.
Ela - Mas só nos vemos na quinta.
Eu - Amanhã podemos tomar um café.
Ela - Pois podemos mas é melhor só na quinta, senão passo a vida a tomar café contigo.
Eu - E não gostas de tomar café comigo?
Ela - Gosto... às quintas.

2.14.2009

não podemos apoiar quem não quer ser apoiado, diz ela

É grave. O Partido Socialista prepara-se para alterar a lei da violência doméstica de forma ingénua. Embora continue a ser crime público a investigação criminal passa a exigir que a alegada vítima preencha um requerimento. Paula Deus, deputada do PS, justifica a alteração porque "não podemos apoiar quem não quer ser apoiado". O problema da Paula é que não percebe que todas as vítimas de violência doméstica querem e precisam de apoio, só que algumas têm medo ou não estão em condições de pedi-lo. [ler no Arrastão]

conversa 1161

Eu - Acho que já bebi demais.
Ela - Eu também já bebi demais.
Eu - E agora?
Ela - Agora é melhor paramos de beber.
Eu - Só isso?
Ela - Só...

respostas a perguntas inexistentes (53)

Os comboios não são um local de engate por excelência mas, pelo menos nas viagens de longo curso, desejamos sempre que ao nosso lado se sente uma mulher bonita e bem cheirosa em vez dum gajo com bigode e ar de gnr reformado. É uma mera formalidade do espírito, este desejo, e por isso é também automático.

Foi por isso que ele se congratulou quando percebeu que ao lado dele se ia sentar a mulher que, à entrada da carruagem, lhe provocara uma erecção espontânea ao tocar-lhe com o rabo enquanto se curvava para arrumar as malas nas prateleiras da entrada. A erecção esticou-lhe alguns pêlos púbicos que provocaram dor mas, ainda assim, considerou que com aquele acontecimento ganhara o dia que, por ser o dia dos namorados, o fazia sentir uma esquisita solidão sexual.

Para além de um rabo cheio e redondo, tal como ele gostava, o resto do corpo dela também lhe parecia bem: os lábios carnudos, os cabelos negros e frisados a roçar uns ombros finos, os seios pequenos mas orgulhosos, uns óculos redondos a escorregar num nariz pequenino, as pernas altas e uma barriguinha lisa a querer espreitar por entre o cinto e a camisola propositadamente curta.

Ela sentou-se. Ele, ainda com o pénis a meia-haste, olhou-a pelo canto do olho e, embora estivesse mortinho por ler a reportagem do último Porto-Benfica, abriu o jornal numa longa notícia sobre crise económica mundial. Não sabia muito bem porquê mas tinha a percepção que um homem que lê notícias sobre a crise deve parecer muito mais interessante do que um homem que lê notícias sobre jogos de futebol.

No seu cérebro, a reportagem sobre a crise e o apetite sexual pela passageira misturavam-se num cocktail explosivo: milhares de desempregados e o rabo dela, crédito mal parado e as mamas dela, injecção de dinheiro na banca e os lábios dela. Depois, já sem qualquer mistura com ingredientes libidinosos, viu o nome da empresa onde trabalhava numa lista de empresas próximas da falência. Perdeu a excitação e tentou adormecer.

14 de fevereiro, dia do consumismo

Hoje, dia 14 de Fevereiro, comemora-se o Dia Internacional do Consumismo.

2.13.2009

conversa 1160

Ela - Os homens preferem as mulheres com as mamas grandes?
Eu - Sei lá... assim às dez da manhã e durante o pequeno-almoço não estava a contar com essa pergunta.
Ela - Mas preferem ou não?
Eu - Alguns sim, outros não. É verdade que há homens com esse fetiche.
Ela - E tu?
Eu - Eu não tenho esse fetiche. Acho que se uma mama couber numa mão, está bem...
Ela - Ok... come a tua torrada.

(cinco minutos depois)
Ela - Ora abre a tua mão e mostra-ma...

conversa 1159

Ela - Dás-me a tua morada?
Eu - Tu sabes onde eu moro...
Ela - Mas preciso mesmo da morada. Vou enviar-te um postal.
Eu - Ena, que giro.
Ela - É que tenho lá montes de postais numa gaveta e não tenho coragem de os pôr no lixo.

2.12.2009

só e acompanhado


Lisboa Clube Rio de Janeiro, Lisboa, Fevereiro de 2009

Gosto de estar em sítios em que posso estar só e acompanhado ao mesmo tempo. Só, porque não conheço ninguém e os olhares se trocam entre todos duma forma efémera. Acompanhado pelo mesmo motivo. Aliás, os olhares trocados por desconhecidos não são todos iguais...

mais uma linda história de amor...

Já ouvi muitas coisas de quem se imagina a tirar o primeiro prémio do euromilhões: eu cá comprava um Ferrari, eu cá dava a volta ao mundo, eu cá nunca mais trabalhava, eu cá comprava uma casa no Everest... enfim, cada um com a sua. Admito, no entanto, que o sonho mais original que já vi foi: "eu cá chateava-me com a(o) minha(meu) namorada(o) e punha-a(o) em tribunal". Às vezes não sei mesmo se devo acreditar no amor... [ler no JN]

conversa 1158

Ela - A minha televisão está outra vez mal.
Eu - Mal como?
Ela - Mal. Os canais estão fora do sítio, outros nem sequer estão e em muitos a imagem é má...
Eu - Isso é porque tu te pões a sintonizar automaticamente aquilo...
Ela - Não sou eu, é o meu filho que carrega nos botões todos do comando...
Eu - Então sintoniza aquilo manualmente e depois põe o comando num sítio onde ele não chegue.
Ela - Ok... queres ir tomar café hoje lá a casa?
Eu - Jà percebi. Queres que eu vá lá fazer isso...
Ela - Sim... eu não percebo nada daquilo.

2.10.2009

o valor das coisas

A actriz Angelina Jolie deixou uns brincos no valor de dois milhões de dólares num hotel em Londres. [ler no JN] Eu não consigo perceber como é que uns brincos podem valer isso, sinceramente. Eu dou muito mais valor a uma garrafa de aguardente. No entanto fico contente que ela tenha perdido uns brincos e não um broche. É que uma notícia no jornal com o título "Broche de Angelina Jolie vale dois milhões de dólares" podia ficar um bocado mal...

conversa 1157

Ela - Não me considero feia, não me considero burra. Estou sozinha há mais de quatro anos... começo a precisar que me digam que o defeito não é meu.
Eu - Tu não és feia. Aliás, és das mulheres mais bonitas que eu conheço e sim, és inteligente.
Ela - Agora diz-me que o defeito não é meu.
Eu - Isso já não sei... nem gosto muito da palavra 'defeito' mas comigo, por exemplo, andaste dois ou três dias e disseste logo que não conseguias continuar.
Ela - Mas aí o defeito foi teu.
Eu - E qual foi o meu defeito, posso saber?
Ela - Podes... foi não me interessares o suficiente.

conversa 1156

Ela - Às vezes acho que há homens tão primários que nem sequer vale a pena tentar explicar-lhes que são primários. Não chegam lá.
Eu - Mas estás a dizer-me isso porquê?
Ela - Não vale a pena explicar.

love trainer



Os japoneses são pródigos em inventar coisas que não servem para nada mas acendem sempre muitas luzinhas e fazem uns ruídos parvos. A Sega Toys pegou nesse conceito e criou o love trainer, uns auscultadores que medem o batimento cardíaco do utilizador durante o acto sexual e vão dando música e conselhos estimulantes.
Tendo em conta que a brincadeira custa cerca de 80 dólares, eu já não estou interessado. É que por muita música e conselhos estimulantes que me dêem, só de saber que gastei tanto dinheiro numa porcaria destas perco logo o entusiasmo todo. No entanto, se um dia destes vir um sucedâneo por dois ou três euros numa loja chinesa, talvez experimente...

respostas a perguntas inexistentes (52)

Dá-se demais. Tem a sensação que se dá constantemente demais. Trabalha demais, preocupa-se demais, pensa demais, corre demais. Apenas vive de menos. Separou-se há alguns anos e, desde então, a vida tem sido apenas um adiar constante, qual cenoura fugitiva dum asno ansioso.
Dá-se demais. Hoje acordou da mesma forma que amanhece todos os dias: apenas porque a Terra gira em torno de si mesma e não há forma de o impedir. Logo à noite vai anoitecer mais uma vez, na cidade e nele, e não há forma de alterar esta rotina do cosmos.
Dá-se demais. É a terceira vez que lambe a colher ainda com restos do pastel de nata que devorou durante o café da tarde. Há muito tempo que não sentia o sabor de nada e ainda nem se tinha apercebido disso. Apercebeu-se agora, quando uma mulher se levantou da mesa ao lado e lhe sorriu antes de sair.

2.06.2009

datas

1] Vou sair agora para estar, este fim de semana, na VI Convenção do Bloco de Esquerda em Lisboa. Não sei se terei muito tempo para aqui vir mas vou tentar...

2] Terça-feira, dia 10, é noite de CousCous Prosjekt no Clandestino bar, em Aveiro.

3] Quarta-feira, dia 11 às dez da manhã, volto a Lisboa para estar nos estúdios da Best Rock FM a falar deste blogue e do livro.

4] Sejam felizes

crónicas de engate (2)

o barbeiro

É quando vou ao barbeiro que costumo falar mais de mulheres. Não porque tenha muita vontade de dizer a um barrigudo que a gaja que acaba de passar lá fora é boa como o milho, mas porque a alternativa é falar de política. Eu até gosto de falar de política, só não o gosto de fazer com alguém que, para além de achar que devíamos expulsar todos os estrangeiros do país porque nos estão a roubar os empregos, me tem amarrado por uma bata numa cadeira e uma navalha aberta em cima do balcão.

É por isso que tento sempre sentar-me na cadeira mesmo à frente de um calendário de 1988 com uma mulher nua, cuja vagina já está queimada pela ponta de um cigarro e, em cuja parede, a humidade negra orna com ironia a escassez de tinta branca. Assim, sei que depois do barbeiro me dizer que aquela humidade parece a pelugem da prostituta que vive mesmo no andar de cima e que, segundo ele, é capaz de acordar um morto, a conversa fica quase só pelas suas mais profundas experiências e devaneios sexuais.

Uma vez garantiu-me que em jovem namorou uma mulher que lhe colocava o preservativo no pénis só com a boca, mas como se a resposta do meu bocejo ruidoso fosse um insulto, passou imediatamente aos seus conselhos sábios que, alguém como eu, devia saber enquanto era jovem e ainda tinha alguma força na verga: que se as mulheres têm as mamas grandes e caídas deve-se virá-las ao contrário, que se as mulheres têm o cabelo curto não se deve pôr a pila na boca delas pois podem morder, que se as mulheres têm as unhas compridas devem ficar sempre por baixo, etc, etc.

Foi precisamente a meio duma aula dessas que senti entrar uma mulher. Coisa estranha e nunca vista, numa loja que mais parecia a caverna dum urso acabado de sair da hibernação, e uma presa (eu) que não queria gastar mais do que cinco euros num corte de cabelo e, por isso, sujeitava-se àquela tortura psicológica da idade média. Não a consegui ver de imediato mas, pelo pingo de baba que me caiu na cabeça já com o cabelo curto, deduzi que devia ser atraente. A voz dela era calma, pelo menos pareceu-o ser quando avisou que queria cortar o cabelo à criança. A criança era um rapaz envergonhado que se sentara mesmo atrás de mim, por baixo do calendário de 1988, e que ouvia música num leitor portátil de mp3.

Foi a primeira vez que vi o reflexo da face do meu barbeiro, no espelho enferrujado, corar. Foi também a primeira vez que senti algum silêncio naquela sala suja. Ela sentara-se no sofá vermelho e coçado e, de vez em quando, virava as folhas duma revista qualquer. Ele preparava-se para iniciar uma conversa qualquer que me parecia ir ser de engate mas que custava a nascer-lhe dos lábios. Depois aproveitou o facto de eu dar um segundo bocejo para mostrar alguma força à desejada. Que eu era jovem e aparecia ali sempre com sono, disse ele. Que ele tinha mais de cinquenta anos mas continuava com energia, continuou enquanto a olhava pelo canto do olho.

Mais um pingo de baba na minha cabeça e a voz da mulher interrompeu aquele processo de humilhação: "energia, energia... oh! homem, cale-se mas é e despache-se. Esse jovem está cansado porque ainda tem que fazer à noite. E olhe que lá porque ontem à noite foi lá acima e não fez o serviço tem que me pagar na mesma". A mulher era a prostituta lá de cima, aquela que eu me habituara a imaginar com uma pelugem enorme.

As últimas três tesouradas foram mais nervosas e aleijaram-me. Depois levantei-me, paguei sem dar gorjeta e saí agradecendo com um sorriso aqueles minutos de paz à mulher. Era bonita.

conversa 1155

Ela - Para além do teu divórcio, qual foi a maior desilusão que tiveste na vida?
Eu - Não sei... acho que o casamento.
Ela - Porquê?
Eu - Os casamentos, com toda a pressão social e familiar que envolvem, são a melhor maneira de lixar a vida de duas pessoas que gostam uma da outra.
Ela - Achas que foi isso que te aconteceu?
Eu - Acho que é isso que acontece a milhares e milhares de pessoas...
Ela - Não generalizes...
Eu - A ti não te aconteceu mais ou menos o mesmo?
Ela - Sim... mas não generalizo.

respostas a perguntas inexistentes (51)

Desligou o auto-rádio para poder ouvir algum silêncio. Abrandou. No espelho retrovisor, a mistura das luzes dos outros automóveis com os pingos da chuva, diluía-se numa aguarela viva e excitada. Apercebeu-se que a conduzir à noite olhava tanto ou mais tempo pelo retrovisor do que em frente. Numa relação também é assim, pensou depois, se quisermos percorrer um caminho qualquer precisamos sempre de olhar para trás.

2.05.2009

mulheres que eu gostava de poder não compreender (77)



nome: Abigail Zsiga
origem: Inglaterra
info: Para além de ser uma mulher bastante bonita, tem uma voz fantástica. Para além dos discos que já editou, trabalha ainda com a organização humanitária love 146 que combate o tráfico e exploração de crianças. Pronto, é só isto mas para mim chega... chega e sobra.
site oficial, myspace

conversa 1154

Eu - Tens uma esferográfica que me emprestes?
Ela - Para quê?
Eu - Para apontar um número de telefone.
Ela - De quem?
Eu - Duma amiga minha.
Ela - Onde é que está essa tua amiga?
Eu - Acabei de passar por ela, antes de tocar à tua campainha, e memorizei o número dela. Tenho é medo de me esquecer.
Ela - E porque é não sabias o número dela?
Eu - Já não a via há anos...
Ela - De qualquer maneira não tenho esferográfica nenhuma....

conversa 1153

(no carro dela com ela a conduzir)

Ela - Não percebo estes peões. Ficam à espera que uma pessoa pare o carro para atravessarem a estrada. Se se metessem logo na estrada, em vez de parar o carro, chegava abrandar.
Eu - Se calhar é porque, se por acaso não parares nem abrandares, os peões é que se aleijam.
Ela - Tens a mania que és engraçadinho, não tens?

conversa 1152

Ela - A mim excita-me que um homem me enfie os dedos das mãos entre os dedos dos meus pés. E a ti?
Eu - Eu?! Eu perdi a excitação toda.

música de amor

Encontrei esta música de amor e, não sei porquê, identifiquei-me com ela. Por isso traduzi-a fielmente. Mesmo muito fielmente. Juro pelo nosso primeiro-ministro. :)

2.04.2009

respostas a perguntas inexistentes (50)



Despovoado de palavras, tentei encontrar no cenário que nos cercava alguma coisa para lhe dizer. Nos automóveis estacionados e estranhamente silenciosos perante o estrépito matinal, no calor de um copo de leite quente servido pelas mãos macias da empregada do café, depois nas gordas de um jornal diário abandonado na mesa ao lado. Às vezes as palavras são filhas do quotidiano mas naquela manhã nem isso. Nada. Os meus lábios continuavam estéreis. Só nesse momento é que se lembraram que podiam tentar beijá-la.

a morte por amor


Suicide (Fallen Body), Andy Warhol

O trabalho realizado em 1962 por Andy Warhol, Suicide (Fallen Body), é na verdade a manipulação de uma fotografia tirada por Robert Wiles no dia 1 de maio de 1947. Pelo seu sentido de oportunidade, a fotografia foi publicada algumas semanas depois na revista LIFE com a sua história por trás:

No dia um de Maio, logo depois de deixar o seu noivo, Evelyn McHale de 23 anos de idade escreveu uma nota. "Ele está muito melhor sem mim... ... nunca serei uma boa esposa para ninguém…" Depois dirigiu-se à plataforma de observação do Empire State Building. Através da neblina olhou para a rua, 86 pisos mais abaixo. Então saltou. Na sua desesperada determinação conseguiu o que pretendia e ao chegar ao solo o seu corpo embateu numa limusina das Nações Unidas estacionada. Do outro lado da rua, um jovem estudante de fotografia, chamado Robert Wiles, ouviu um som como que duma explosão. Apenas quatro minutos depois da morte de Evelyn McHale, Wiles obteve esta imagem de violência e serenidade na morte.


Robert Wiles

conversa 1151

(ao telefone)

Eu - Estou a conduzir. Tens que ser breve.
Ela - E atendeste o telefone?
Eu - Se eu não atender, tu depois dizes-me que fiz de propósito e ficas chateada comigo. É o costume...
Ela - Lá porque eu fico chateada contigo não quer dizer que devas atender. É melhor eu chatear-me contigo do que teres um acidente.
Eu - Estou parado numa fila. Não vou ter nenhum acidente.
Ela - Então devias era ser multado. É melhor eu chatear-me contigo do que seres multado. Ou não?
Eu - Diz lá o que é que queres...
Ela - Já me esqueci. Depois telefono-te outra vez.

2.03.2009

violência...

Não sei o nome desta mulher. Na verdade nem me interessa. Sei que para mim faz parte da História e não é (só) pela coragem demonstrada. É por ser capaz de responder à violência sem violência...

conversa 1150

Ela - Acho que gostava de ter uma experiência sexual a três... mas o meu namorado não parece aberto a novas experiências...
Eu - Não olhes para mim...
Ela - Porquê?
Eu (risos) - A três, com uma delas a ser o teu namorado, também não me apetece muito...
Ela - Eu já disse que ele não está aberto a novas experiências. Pode ser outro gajo qualquer.

conversa 1149

Ela - Já não vamos ao cinema há tanto tempo...
Eu - Disseste-me que tinhas ido ver o Ensaio Sobre A Cegueira...
Ela - Estou a dizer juntos...
Eu - Ah!
Ela - És tão primário.

2.02.2009

respostas a perguntas inexistentes (49)

Garrafa. Numa das prateleiras mais altas da casa do meu avô, havia um barco dentro duma garrafa. Passei anos sem perceber como ele tinha ido ali parar e, no entanto, nunca perguntei a ninguém. Acho que tinha medo que a resposta fosse demasiado óbvia e me achassem pouco inteligente por não saber. A vontade de saciar a minha dúvida esbarrava no facto de nunca ter visto ninguém a discutir o assunto e, quando ninguém discute um assunto, é porque ele é óbvio.
Garrafa. Lembrei-me disto muito mais tarde, quando numa noite de solidão me sentei ao balcão dum café dos subúrbios da cidade, tão intermitente quanto as luzes dos candeeiros públicos da rua, e pedi um uísque. Depois pedi outro e por fim pedi a garrafa. Quando acabei de a beber percebi que dentro dela cabia muito mais do que um barco.

conversa 1148

Ela - Posso ler-te o teu horóscopo?
Eu - Poder até podes, mas eu não vou ligar nada ao que estás a dizer.
Ela - És tão agressivo. Não podias fazer o jeito, ao menos?
Eu - Não estou a ser agressivo. Estou a tentar evitar que fiques a falar para o boneco. Se queres que eu te faça o jeito de te deixar a falar para o boneco, eu faço...
Ela - Por acaso, não és muito mais do que um boneco, às vezes...

2.01.2009

conversa 1147

(na cozinha)

Ela - Como é que se chama este molho?
Eu - Não tem nome. Fui eu que inventei, embora deva haver milhões de pessoas a fazer molhos parecidos...
Ela - Ensinas-me a fazer?
Eu - Ensino, embora eu não o faça sempre da mesma maneira. Vou mudando consoante a vontade.
Ela - Cá para mim não me queres é ensinar.

esqueça, o gosto dos homens nunca vai mudar



A imagem de cima, com Mena Suvari no filme "Beleza Americana", tornou-se um ícone da sensualidade feminina após a exibição do filme. Os iogurtes brasileiros FitLight inspiraram-se nela, substituindo a Mena por uma mulher bem mais forte, e juntaram-lhe a frase "Esqueça, o gosto dos homens nunca vai mudar". Fizeram o mesmo com mais duas imagens...
O primeiro erro desta campanha é partir do princípio que, só por ser gorda, uma mulher já não é sensual. Na verdade até acho a imagem da publicidade atraente. O segundo erro é partir do princípio que as mulheres devem emagrecer por causa dos homens e não por causa delas mesmas.
Quando vejo este tipo de publicidade penso sempre na quantidade enorme de mulheres que, por se sentir gorda, deve desviar os olhos e olhar para o chão com alguma tristeza; penso ainda nas vítimas da anorexia e na estupidez em que o mundo às vezes se consegue tornar. Pelos vistos, há publicitários que não pensam...